21 de Junho de 2010 às 10:02
Valor Econômico
*Janes Rocha, de Costa do Sauípe (BA)
O encontro anual dos conselheiros da Previ está confirmando o que ficou aparente com a eleição da nova diretoria em maio: um forte avanço do poder da empresa patrocinadora, o Banco do Brasil, sobre a fundação de previdência dos funcionários.
Uma mostra da ingerência do banco na fundação foi dada pelo diretor de sustentabilidade do BB, Robson Rocha, que, do palco da solenidade de abertura do evento, na noite de quarta-feira, conclamou em alto e bom som que os conselheiros da Previ deveriam apresentar os produtos do banco para as empresas onde são conselheiros.
Ao ser questionado sobre o conflito de interesses que isso geraria - afinal, outros bancos não teriam um agente tão privilegiado dentro do conselho das empresas -, Rocha reconheceu que este não era o papel de um conselheiro. "Não é o papel oficial dele, mas ele pode sugerir, não vejo isso como imposição."
Ricardo Flores, presidente da Previ, evitou polemizar com o representante da patrocinadora, mas disse que "as boas práticas recomendam condições iguais de competição" e que a postura dos conselheiros deve ser "a mais leal à companhia que ele serve".
Como foi divulgado na ocasião da eleição, a nova diretoria da Previ, que tomou posse este mês, foi toda escolhida pelo banco depois de uma disputa interna que terminou com a derrota do então mais forte candidato, o ex-diretor Joilson Ferreira, defendido pelo ex-presidente Sergio Rosa.
A política de investimentos para 2011 da Previ vai privilegiar práticas de sustentabilidade socioambiental nas empresas emissoras dos papéis em que investe seus recursos, informou o novo diretor de investimentos da entidade, René Sanda. "Praticamente todas as empresas têm um conceito bem definido de sustentabilidade, falta levar para a prática", reconheceu Sanda ao responder uma questão sobre até que ponto a fundação cobrava bom comportamento socioambiental das empresas em que tem ações ou participações acionárias relevantes.
Empreendedorismo e sustentabilidade é o tema deste ano do encontro de conselheiros, uma grande reunião dos 220 representantes (entre titulares e suplentes) da Previ nas empresas em que possui posições acionárias mais relevantes. O evento, aberto na quarta-feira à noite, é realizado anualmente no mesmo local: o resort Costa do Sauípe, uma das controladas da fundação. "Estamos passando um sinal claro para os conselheiros de que eles têm que ponderar (sobre sustentabilidade) dentro dos conselhos de suas empresas", disse Ricardo Flores.
A Previ tem perto de R$ 80 bilhões aplicados em ações no mercado acionário e em participações em quase 70 empresas. Essa posição, embora tenha contribuído para a formação de um superávit acumulado de R$ 38 bilhões, já começou a ser reduzida, a fim de gerar liquidez para pagamento das aposentadorias da maioria dos participantes, que já está entrando na fase de recebimento de benefícios.
Enquanto não se espera que a fundação venha a aumentar ou diminuir muito drasticamente sua posição em renda variável, em função de uma eventual exclusão de empresas não sustentáveis, critérios mais rígidos serão cobrados daquelas companhias emissoras de títulos de renda fixa que a Previ pretende investir a partir de 2011, sugeriu Sanda.
*A repórter viajou a convite da Previ
Fonte: Valor Econômico
Link: https://sindicario.com.br/banco-do-brasil/banco-do-brasil-sugere-que-previ-deve-ofertar-produtos-do-banco/