12 de Novembro de 2008 às 10:57

BB deve gastar R$ 14 bi com Nossa Caixa, Votorantin e BEP

As equipes da Nossa Caixa e do Banco do Brasil estão bastante próximas de concluir as negociações para que o banco federal adquiria a instituição estadual paulista. Nenhum anúncio oficial deve sair nos próximos dois dias, mas há uma expectativa de que a transação possa ser fechada a partir de sexta-feira.
 
Não existe mais divergência em relação ao preço a ser pago. Entre participação do governo paulista e ações dos minoritários da Nossa Caixa, que tem ações em bolsa, o BB deverá pagar cerca de R$ 7 bilhões. O governo tem 71,25% do capital e, portanto, receberia cerca de R$ 5 bilhões desse total. Os outros 28,75% das ações estão na bolsa. Como a Nossa Caixa está listada no Novo Mercado da Bovespa, os minoritários têm direito a receber 100% do preço por ação pago ao controlador. Os 28,75% das ações nas mãos dos investidores equivaleriam, portanto, a cerca de R$ 2 bilhões.
 
O BB deverá gastar cerca de R$ 14 bilhões para ficar com a totalidade da Nossa Caixa e quase metade do capital do banco Votorantim. O desembolso total no caso do banco dos Ermírio de Moraes deve ser de R$ 7 bilhões, o que inclui pagamento aos controladores e uma injeção de capital. Além disso, o banco federal acertou também a incorporação do Banco do Estado do Piauí (BEP), por R$ 81 milhões.
 
Tantas negociações em curso simultaneamente têm exigido que a equipe do Banco do Brasil se desdobre. Em uma reunião recente com a turma da Nossa Caixa, o BB enviou uma espécie de “equipe B”. A explicação é que o primeiro time, que vinha à frente das conversas, foi escalado para reunião com o Votorantim.
 
Superado o fator “preço” entre BB e Nossa Caixa, falta ainda acertar a forma de pagamento ao governo paulista, que foi motivo de longas discussões. Inicialmente, o BB queria pagamento em ações, enquanto o governador José Serra queria pagamento em dinheiro, à vista.
 
O Valor apurou que o cenário mais provável, hoje, é que o BB faça pagamento em dinheiro (pelo menos da maior parte) em três parcelas: uma à vista, outra em seis meses e a última dentro de 12 meses. Mas ainda estão sobre a mesa outras propostas, como pagamento parcial em ações, e prazos até mais longos, de até dois anos.
 
A dificuldade em aceitar pagamento em ações é que o governador Serra pretende usar os recursos da venda da Nossa Caixa em obras ainda no seu mandato, que vai até 2010. Com a condição atual de mercado, transformar um grande bloco de ações em dinheiro é praticamente impossível. Já o pagamento em dinheiro a prazo não seria um grande problema porque o governo poderia facilmente levantar empréstimos com base nesse “recebível” do BB.
 
Outro fator que conta a favor do pagamento em dinheiro é uma avaliação de pessoas que participam das negociações de que o valor atribuído à Nossa Caixa, de R$ 7 bilhões, não é extraordinário, mas apenas “justo”.
 
Ontem, o valor de mercado da Nossa Caixa estava em R$ 5,5 bilhões, ou seja, com desconto ainda em relação ao preço que deve ser pago pelo BB. Esse desconto parece fazer sentido diante da incerteza dos investidores em relação à forma de pagamento a ser acertada.
 
Em evento de divulgação de um linha de empréstimo de R$ 4 bilhões da Nossa Caixa aos bancos de montadoras, o governador José Serra disse que as negociações para a venda do banco paulista continuam em andamento e que um eventual acordo será anunciado oportunamente. Serra se reuniu ontem com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, por conta do lançamento dessa ajuda ao setor automotivo, mas negou que tenha discutido a transação com o Banco do Brasil. “Por incrível que pareça, não conversamos sobre isso”.
 
A expectativa do governo federal é que a negociação do Banco do Brasil para a aquisição da Nossa Caixa seja concluída a tempo de a Assembléia Legislativa de São Paulo aprovar a operação antes do recesso de fim de ano.
 

Vanessa Adachi, com Fernando Travaglini, Claudia Safatle e Alex Ribeiro, do Valor Econômico
 

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