18 de Março de 2010 às 09:32

Acordo global favorece bancários e empresas, defende chefe da UNI Finanças

O secretário-geral da UNI Finanças, Oliver Röethig, é o principal nome à frente da campanha mundial pela construção de acordos marco com HSBC e Santander. Nesta entrevista, concedida nesta quarta-feira, 17, durante o seminário de lançamento da campanha, em São Paulo, ele fala sobre os objetivos do sindicato global e da importância do acordo para trabalhadores e empresas. "Estou convencido de que o estabelecimento de um acordo global e de relações trabalhistas decentes é uma boa política de negócios", afirma o dirigente. Veja abaixo os principais trechos:


Quais as expectativas da UNI com essa campanha?


Oliver Röethig - Primeiramente, conseguir o acordo global que permita a criação de uma rede transnacional de sindicatos e o estabelecimento de uma estrutura apropriada de diálogo entre trabalhadores e empresas. Os bancos multinacionais têm a mesma estratégia nos diversos países em que estão presentes. Eu viajo muito e posso afirmar: os problemas enfrentados pelos bancários dessas empresas são os mesmos. Os bancos cada vez mais tentam aplicar as mesmas políticas em todo o mundo.


Outro ponto é criar uma rede poderosa de sindicatos em todo o mundo, permitindo troca de experiências e uma atuação mais próxima. Se os problemas são os mesmos, as soluções que o sindicato de cada país encontrar, podem ser passadas para os outros. Seria estúpido tentarmos reinventar a roda cada um em seu país. Se pudermos trocar experiências, poderemos economizar esforços. Um terceiro ponto é usar o acordo global e essa rede de sindicatos para organizar os trabalhadores nos diversos países.


Quais as estratégias para alcançar esses objetivos?


Bom, isso será discutido nesse encontro, mas creio que depende de certos fatores. Se as empresas aceitarem ou não negociar conosco é um deles. Estou convencido de que o estabelecimento de um acordo global e de relações trabalhistas decentes é uma boa política de negócios. Nós somos sindicalistas, temos nossos interesses, mas não queremos que a empresa vá mal, pelo contrário. Queremos construir juntos as melhores saídas para os problemas que enfrentamos. Vamos estender nossa mão e esperamos que os bancos aceitem, para que possamos começar esse diálogo.


Além disso, vamos falar com os trabalhadores sobre esse processo e a importância da criação do acordo global. Queremos estabelecer um diálogo construtivo, não queremos de forma alguma prejudicar a empresa.


Existem outros acordos já estabelecidos?


Sim, no setor bancário, temos acordos com o Australian Group, que atua na Austrália, Reino Unido e Nova Zelândia, e com o Danske Bank, banco dinamarquês que atua também na Noruega, Islândia, países do Leste Europeu, entre outros locais. Esse acordo com o Danske Bank é muito bom, mostra a importância de a empresa trabalhar junto com os trabalhadores e ter um sindicato para negociar.


Além disso, temos 35 acordos em empresas de outros setores, como a americana ISS, que atua nos serviços de limpeza e segurança, e com a espanhola Telefonica.


Os bancários brasileiros têm uma estrutura sindical forte. Como o acordo pode beneficiá-los?


O acordo global tem várias faces. Uma delas é a de garantir a sindicalização, o que de fato os brasileiros já conquistaram em grande medida. Mas ele também prevê o estabelecimento de um canal de diálogo melhor entre trabalhadores e empresa. As políticas das empresas são definidas cada vez mais em suas matrizes, não ficando muita margem de manobra para as gerências locais. Assim, os bancários brasileiros também têm dificuldade de interferir no planejamento estratégico. Com o acordo, existirá um canal para essas demandas. E é um caminho de duas mãos: os administradores da matriz também terão acesso a informações mais confiáveis sobre o que acontece nas bases das empresas.


Uma situação que me surpreendeu foi a dos bancários nos Estados Unidos, onde apenas 1% desses trabalhadores é sindicalizado. Como num país desenvolvido existe algo assim?


Sim, é estranho como os EUA podem estar no nível de um país em desenvolvimento quando o tema é sindicalização dos trabalhadores. É um problema que vem desde a Grande Depressão, quando a lei americana forçou a criação apenas de bancos regionais, e é mais difícil organizar trabalhadores em empresas menores.


Outro problema vem de uma cultura gerencial bastante antissindical. As empresas coíbem fortemente a formação de sindicatos e, se os trabalhadores em algum lugar conseguem se organizar, elas mandam seus "bad boys" que usam todos os recursos para impedir a sindicalização. Chegam a demitir os funcionários ou a fechar unidades. Sem proteção da lei, os trabalhadores não têm como se defender. Existem alguns sindicatos mais antigos, como o dos caminhoneiros ou da indústria na região de Detroit, mas que também se enfraqueceram, pois as empresas deixaram essas regiões e foram para o sul do país. Mas a maioria das categorias não tem essa força e, por conta dessa situação, um caixa bancário chega a ganhar menos que um funcionário da limpeza sindicalizado.


Fonte: Contraf-CUT

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