“Queremos deixar de ser uma federação de bancos para ser uma grande organização”. A frase, proferida pelo presidente da área de investimentos do HSBC, Luís Eduardo Assis, ao jornal Valor Econômico (edição de 4 de setembro), refere-se ao objetivo do banco inglês de integrar suas operações de negócios espalhadas pela América Latina, onde tem uma presença forte. No entanto, mais do que integrar negócios, os trabalhadores esperam que o banco trabalhe também para integrar e igualar os direitos e condições de trabalho dos bancários.
Um crescimento baseado em aquisições, que reuniram um punhado de empresas com culturas diferentes, fez do banco Britânico possuidor de uma rede de quatro mil agências em 14 países da América Latina, operações que já representaram cerca de 10% de seus resultados brutos globais.
O crescimento acelerado da instituição na América Latina ganhou corpo no Brasil com a compra do Bamerindus, nascendo o HSBC Brasil, e depois engordou com a incorporação do CCF, do Lloyds e de parte das operações do Matone. O HSBC decolou no México com a compra do Bital e cresceu com as aquisições da Afore Allianz Dresdner, da Allianz Rentas Vitalicias e da financeira Independência. A instituição financeira inglesa também está presente em Argentina, Colômbia, Paraguai, Chile, Costa Rica, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru, Uruguai e Venezuela.
Realidades distintas – Uma das metas do processo de integração é a ampliação da participação da região no lucro bruto global da empresa para 15% em três anos. A receita para isso: “tecnologia bancária é o nome do jogo. Operar em silos é mais fácil, não exige coordenação”, esclareceu Luis Eduardo Assis.
“O que ele não diz é que essa estratégia já vem sendo usada internamente em vários países da região, resultando em demissões em massa e sobrecarga de trabalho para os trabalhadores que permaneceram no banco”, analisa Sérgio Siqueira, diretor executivo da Contraf/CUT e funcionários do HSBC. Uma das marcas desta realidade é o chamado gerente virtual. Os clientes são direcionados ao atendimento telefônico para sanar dúvidas, deixando a cargo dos gerentes funções de negócios, contribuindo consideravelmente para a eliminação de postos de trabalho.
Além disso, outros problemas afetam os bancários do HSBC em cada país. “É preciso que esse processo de integração comece com os direitos dos bancários e bancárias, garantindo a todos e todas melhores salários e condições de trabalho”, defende Sérgio. “Essa discussão passa pela construção de um Acordo Marco que crie patamares mínimos a serem respeitados pela empresa nas negociações de cada país”, avalia.
Na Colômbia, o banco chegou no ano passado, com a compra do Banistmo, e começou mal sua relação com o movimento sindical. A categoria conseguiu negociar com as empresas do setor um aumento de 7,5%. No entanto, o HSBC se recusou a melhorar o rendimento de seus empregados e ainda quis cortar benefícios, como empréstimo para a casa própria, indenização por demissão e outros. A resposta dos bancários do HSBC à truculência da direção do banco foi uma greve de onze dias, a primeira paralisação no setor financeiro do país. Os trabalhadores conseguiram assinar uma nova convenção coletiva, com importantes conquistas. Além disso, o HSBC ainda utilizou-se de práticas anti-sindicais, ameaçando trabalhadores e oferecendo ganhos maiores para os que se desligassem do sindicato, a UNEB (Unión Nacional de Empleados - União Nacional de Empregados). A UniFinanças América foi acionada pelo sindicato colombiano e cobrou da direção do HSBC respeito à entidade sindical.
No Paraguai, o banco chegou após a aquisição do LLoyds. São 220 trabalhadores bancários no HSBC sofrendo forte pressão por metas e conseqüente adoecimento. No ano de 2006, houve interferência bem sucedida por parte da COE HSBC da Contraf/CUT no Brasil pela garantia do emprego dos trabalhadores no Paraguai.
Na Argentina, posturas autoritárias do banco levaram a choque com o sindicalismo. O HSBC pretende impor sua cultura, como utilização da língua inglesa, desrespeito a jornada de trabalho (sem pagamento de hora-extra) e sistema de metas (incomum na Argentina e que não é utilizado por outros bancos). Houve ainda relato de problemas de saúde de trabalhadores de Call Centers, além de uma denúncia no Ministério do Trabalho contra a terceirização no setor de compensação.
No Uruguai, o banco privilegia contratações de jovens da elite e discrimina o trabalhador que esteja envolvido com o movimento sindical. Depois de muita luta, os sindicalistas do país construíram um acordo para a contratação de trabalhadores no seguro desemprego, diminuindo essa desigualdade. Além disso, ocorre também extrapolação de jornada de trabalho.
No Brasil, a política adotada pela instituição afeta diretamente aos bancários e clientes. Muitos trabalhadores vêem pedindo demissão em função da sobrecarga de trabalho, enquanto os clientes sofrem com o serviço precarizado. Levantamento publicado pelo Banco Central revela que o HSBC encabeça a lista de reclamações contra os bancos. Foram 17.564 reclamações, destacando o mau atendimento e a falta de fornecimento de documentos. O HSBC mantém-se campeão de reclamações desde abril até julho deste ano.
Nem mesmo os lesionados estão isentos de uma possível demissão. Recentemente, três bancários em licença médica receberam telegramas em suas casas informando-os de uma demissão por justa causa. O banco utilizou como base o artigo 508 da CLT, que prevê demissão por dívidas para bancários, alegando cheques sem fundos. Porém, os bancários não possuem sequer talão de cheque. Contudo, mesmo afastados por doenças relacionadas ao trabalho, a instituição marcou as homologações.
Outro problema enfrentado pelos bancários é a política do banco para premiações realizado através do CDP. A divisão é feita por níveis, que seguem do primeiro ao quinto. Sendo avaliado até o terceiro nível, há uma recompensa financeira, o que não acontece nos demais níveis. Ao contrário, este é visto como mau funcionário. “O fato é que o instrumento avaliativo vem sendo utilizado pelo banco como parâmetro para depreciar inúmeros funcionários ao quarto nível, o que não proporciona o acréscimo financeiro e que também pode ocasionar uma demissão, seja pela instituição ou pelo próprio bancário”, explica Sérgio Siqueira.
Ele lembra que, neste momento, está ocorrendo a Campanha Nacional dos Bancários 2008, e que os empregados do HSBC têm todos os motivos para participar. “Os principais pontos da campanha deste ano, expressos nos motes ‘Mais salários, mais bancários e melhor qualidade de vida’, atendem diretamente às demandas dos bancários do HSBC. A participação e mobilização de todos é indispensável para arrancarmos dos banqueiros melhores condições de trabalho e remuneração justa”, avalia.
Contraf/CUT, com Valor Econômico