7 de Agosto de 2024 às 15:03

Mesmo com aumento nos lucros, banqueiros propõem precarizar salários

Campanha Nacional

Na 6ª rodada de negociação da Campanha Nacional dos Bancários, que aconteceu nesta quarta-feira (7), o Comando Nacional cobrou da Federação Nacional dos Bancários (Fenaban) aumento real nos salários, aumento na PLR e melhorias nas demais cláusulas econômicas, como nos vales alimentação e refeição, diante dos significativos resultados financeiros dos bancos.

O presidente interino do SEEBCG-MS, Rubens Jorge Alencar, que faz parte do Comando Nacional dos Bancáros, esteve presente na negociação e disse que a Fenaban tentou fazer uma proposta precarizada. "A Fenaban tentou apresentar uma proposta precarizada com relação ao nosso índice de reajuste, a valorização da PLR, o nosso aumento do VA e VR e refutamos na  mesa. Agora, vamos aguardar uma proposta decente na próxima rodada de negociação, no dia 13, e também que seja dada resposta de todas as demais reivindicações apresentadas em reuniões de negociação anteriores".

 

A Consulta Nacional dos Bancários deste ano, realizada com quase 47 mil trabalhadoras e trabalhadores em todo o país, aponta que o aumento real no salário está no topo (93%) das prioridades da categoria, seguida pelo aumento da PLR (63%), e dos vales alimentação e refeição (51%).

O porta-voz da Fenaban falou de aumento de concorrência no setor, diante do surgimento de novas instituições de pagamento. Disse ainda que essa concorrência coloca o setor bancário em risco no país e sugeriu propostas que poderiam precarizar direitos e rebaixar os salários.

“Os bancos estão chorando de barriga cheia. Mostramos que, entre 2003 e 2023, o lucro líquido dos maiores bancos no Brasil cresceu 169% acima da inflação. Além dos lucros, os bancos sempre mantiveram rentabilidade significativa no país, mesmo em momentos de crise, com crescimento médio de 15% acima da inflação. A título de comparação, os bancos dos Estados Unidos têm rentabilidade média de 6,5% acima da inflação, na Espanha 10% e na Inglaterra 9%", destacou a coordenadora do Comando Nacional dos Bancários e também presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Juvandia Moreira. “Atualmente, 82% do crédito brasileiro e 81% dos ativos do setor financeiro estão nas mãos dos bancos”, completou.

Os trabalhadores ressaltaram ainda que, apesar de a Convenção Coletiva de Trabalho ter garantido aumento real de 21% na remuneração da categoria, entre 2003 e 2023, efetivamente, os ganhos reais no período foram de 16%, por causa da rotatividade no setor, uma vez que trabalhadores admitidos ingressam com salários menores que os admitidos. E, nos últimos oito anos, os bancários tiveram um déficit nos salários de 0,3%, abaixo da inflação.

“Então, a realidade é que os bancos estão retirando os ganhos da categoria, obtidos em acordo coletivo, por meio da rotatividade e isso impacta também na qualidade dos serviços para os clientes, porque demitem trabalhadores mais experientes, novamente, colocando os ganhos financeiros acima dos direitos trabalhistas e do atendimento melhor”, completou Juvandia.

A também coordenadora do Comando Nacional dos Bancários, Neiva Ribeiro, lembrou que, entre 2003 a 2023, as receitas de tarifas dos bancos cresceram 120% acima da inflação. “As receitas com as tarifas são por onde as empresas retiram recursos para a folha de pagamento. Neste mesmo período, de 20 anos, as despesas com pessoal dos bancos cresceram 52%. Se pegarmos então o período de 2017 até 2013, as despesas com pessoal dos bancos caíram 10% em termos reais", ressaltou, com base em levantamento do Dieese.

Principais reivindicações da mesa

Recomposição salarial:

- Que o reajuste salarial corresponda à reposição da inflação, pelo INPC acumulado entre setembro de 2023 e agosto de 2024, acrescido do aumento real de 5%.

Participação nos Lucros e Resultados:

- Garantia de que todos os empregados, independentemente de faixa salarial e incluindo aposentados e afastados por motivos de saúde ou acidente, tenham participação nos lucros da empresa, a partir do pagamento de três salários-base, mais as verbas fixas de natureza salarial, reajustadas em setembro de 2024.

- Que as empresas paguem, a título de parcela adicional, o valor fixo de R$ 15.400,07, corrigido pelo INPC-IBGE, acumulado no período entre setembro de 2023 e agosto de 2024, acrescido de aumento real de 5%.

- Que os bancos não descontem da PLR (seja regra básica, seja parcela adicional) outros pagamentos feitos por planos próprios e de remuneração variável.

- Transparentes sobre as regras usadas para calcular e pagar a PLR.

Auxílio alimentação e auxílio refeição:

- Aumento do VA dos atuais R$ 835,99, pagos mensalmente, para R$ 1.412,00, e aumento do VR dos atuais R$ 1.060,84, pagos sob a forma de 22 tickets de R$ 48,22, para R$ 1.412,00, pagos em 23 tickets de R$ 61,39.

Auxílios creche e babá:

- Pagos no valor de um salário-mínimo: R$ 1.412,00.

Endividamento entre os bancários

O Comando Nacional também levou à mesa resultados da pesquisa sobre a situação de endividamento da categoria: 71% estão com dívidas, desses 46% com cartão de crédito e 42% com crédito pessoal.

A título de comparação, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), da Confederação Nacional do Comércio aponta que 78,8% das famílias do país estão endividadas. Na população com renda acima de 10 salários mínimos, esse percentual é 71,4%.

Entre os bancários endividados, 10% estão com atrasos, enquanto a média das famílias com alguma dívida em atraso no país está em 28,6%.

"Dessas dívidas em atraso, entre os bancários, 66% são com cartão de crédito e 45% crédito pessoal, o que é muito preocupante, sobretudo no caso do cartão de crédito, diante dos juros extorsivos do rotativo", pontuou Juvandia Moreira.

O Comando Nacional dos Bancários lembrou que, até 2022, ocorreu um aumento nos níveis de endividamento do país, por conta de fatores como crise política e econômica e a covid-19. Esses níveis começaram a melhorar em 2023, com inflação sob controle, melhora na atividade econômica, programas de governo para famílias saírem do endividamento, como o Desenrola, e aumento nos níveis de emprego.

“Nossa reivindicação neste ponto do endividamento é para que os bancos atuem, por exemplo, com a criação de um crédito consignado, com juros abaixo dos praticados, para os funcionários. Chamamos a atenção também que, com a melhora das atividades econômicas, os bancos estão apresentando melhores lucros, em relação aos anos recentes e isso é reflexo dos esforços da categoria, no seu dia a dia no trabalho, e que devem ser reconhecidos, com melhoria na remuneração”, ressaltou Juvandia.

Dia de mobilização

O próximo encontro com a Fenaban será em 13 de agosto. O Comando cobrou que os bancos tragam, no dia, propostas já debatidas até o momento na campanha nacional. No dia 12, a categoria realizará um dia nacional de lutas, para cobrar propostas decentes aos bancos.

Calendário das próximas negociações

13/08 – Cláusulas econômicas
20/08 – Em definição
27/08 – Em definição

Por: Contraf


 

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