31 de Agosto de 2011 às 12:38
Apesar de criar 11.978 empregos em todo país no primeiro semestre de 2011, os bancos aumentaram o número de demissões e intensificaram a prática de usar a rotatividade para diminuir o salário dos bancários e aumentar os lucros. Os números da Pesquisa de Emprego Bancário, elaborada com base nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram 18.559 desligamentos nos primeiros seis meses do ano. Desde 2009, quando a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e o Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Socioeconômicas (Dieese) começaram a realizar o levantamento, foram registrados 82.001 desligamentos nos bancos.
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Os empregos gerados no 1º semestre são o resultado de 30.537 admissões e 18.559 desligamentos. Esse saldo positivo significa expansão de 2,48% no emprego bancário. Na comparação com o saldo de 1.265.250 postos gerados em todos os setores da economia no primeiro semestre, os bancos contribuíram com apenas 0,95% do total. No mesmo período, a remuneração média dos bancários admitidos foi de R$ 2.497,79, valor 38,39% menor que a média dos desligados, de R$ 4.054,14.
"Esse número descabido de desligamentos comprova a estratégia dos bancos de utilizar a rotatividade para reduzir gastos com a folha de pagamento e aumentar ainda mais os seus lucros estrondosos, que superaram R$ 23 bilhões no primeiro semestre", afirma Carlos Cordeiro, presidente da Contraf-CUT.
"A ameaça de demissão paira sobre as cabeças dos bancários e serve como pressão para o cumprimento de metas abusivas e de combustível para o assédio moral. Precisamos de garantias que protejam o emprego dos bancários, como a ratificação a Convenção 158 da OIT que impede as dispensas imotivadas", sustenta Cordeiro. Por isso, o emprego decente é o tema central da Campanha Nacional dos Bancários 2011, cujas negociações com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) começam nesta terça e quarta-feira (30 e 31), em São Paulo.
Contratações nas faixas de remuneração mais baixas
Outro dado que aponta a estratégia dos bancos de aumentar lucros por meio das demissões mostra que, entre janeiro e junho, as faixas de remuneração de até 3 salários mínimos tiveram saldo positivo, totalizando 16.231 novos postos de trabalho. O maior saldo de empregos foi registrado para a faixa de remuneração entre 2 e 3 salários mínimos, responsável pela geração de 15.020 vagas.
Já todas as faixas salariais acima de 3 salários mínimos tiveram saldo negativo de geração de empregos, com destaque para a faixa entre 3 e 4 salários mínimos que apresentou o saldo negativo mais expressivo, com o fechamento de 1.196 vagas.
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A rotatividade do setor financeiro também é demonstrada pelos dados relativos ao tempo de serviço dos desligados no primeiro semestre.
Os trabalhadores com até um ano de banco somam 19,62% total de 18.559 demissões e aqueles que estavam há mais de 1 e menos de 5 anos no emprego, representam 37,43% do total de demissões. Dos trabalhadores desligados, 26,08%, estavam no emprego há 10 anos ou mais e recebiam remuneração média de R$ 5.022,53, demonstrando a estratégia de dispensar os empregados mais antigos para reduzir os custos dos bancos.
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Sem perspectiva de carreira
Os dados do CAGED mostram que, no primeiro semestre, houve crescimento das demissões sem justa causa, que representava 42,02% dos desligamentos no primeiro semestre de 2010 e passou para 46,81% do total de desligamentos no mesmo período de 2011.
A saída do emprego por iniciativa do próprio bancário foi responsável por 46,99% do total de desligamentos nos bancos. As aposentadorias, por sua vez, correspondem a apenas 1,60% dos casos de desligamento, totalizando 297 bancários. Esse número, no entanto, está subavaliado, na medida em que alguns bancos federais classificam o desligamento por aposentadoria como "demissão a pedido". A remuneração média para aposentados no setor foi de R$ 2.851,29.
"Os números mostram os efeitos perversos da enorme rotatividade e da política discriminatória de remuneração dos bancos, que fazem com que a profissão de bancário deixasse de ser valorizada. Cada vez menos se vê possibilidade hoje de fazer uma carreira num banco, pois o trabalhador sabe que será demitido ou adoecerá diante das precárias condições de trabalho", avalia Carlos Cordeiro.
Tipo de Desligamento
|
Desligados
|
||
Nº de trabalhadores
|
Part. (%)
|
Rem. Média
(em R$) |
|
Desligamento por demissão sem justa causa
|
8.687
|
46,81%
|
4.005,90
|
Desligamento por demissão com justa causa
|
519
|
2,80%
|
3.060,64
|
Desligamento a pedido
|
8.721
|
46,99%
|
4.250,52
|
Desligamento por término de contrato
|
126
|
0,68%
|
2.913,49
|
Desligamento por aposentadoria
|
297
|
1,60%
|
2.851,29
|
Desligamento por morte
|
119
|
0,64%
|
4.104,89
|
Término de contrato de trabalho por prazo determinado
|
90
|
0,48%
|
910,71
|
Total
|
18.559
|
100,00%
|
4.054,14
|
Desigualdade de gênero persiste nos salários
As mulheres ocuparam 50,14% do total de vagas criadas nos primeiros seis meses no setor bancário, totalizando 6.006 postos de trabalho, enquanto 5.972, ou 49,86% do total, foram ocupados por homens.
Gênero
|
Admitidos
|
Desligados
|
Saldo
|
Diferença da Rem. Média (%)
|
||||
Nº de trabalhadores
|
Part. (%)
|
Rem. Média
(em R$) |
Nº de trabalhadores
|
Part. (%)
|
Rem. Média
(em R$) |
|||
Masculino
|
15.940
|
52,20%
|
2.842,18
|
9.968
|
53,71%
|
4.644,93
|
5.972
|
-38,81%
|
Feminino
|
14.597
|
47,80%
|
2.121,72
|
8.591
|
46,29%
|
3.368,66
|
6.006
|
-37,02%
|
Total
|
30.537
|
100,00%
|
2.497,79
|
18.559
|
100,00%
|
4.054,14
|
11.978
|
-38,39%
|
A análise da remuneração média revela que os valores pagos tanto para as trabalhadoras admitidas quanto para as desligadas é inferior aos dos homens. As mulheres desligadas saíram do banco com rendimento médio de R$ 3.368,66, um valor 27,48% inferior àquele auferido pelos homens (R$ 4.644,93). Na contratação, as mulheres recebem, em média, R$ 2.121,72, valor 25,35% a menos do que a remuneração dos homes, em média de R$ 2.842,18.
Remuneração Média (em R$)
|
Masculino
|
Feminino
|
Diferença em % Remuneração Média
|
Admitidos
|
2.842,18
|
2.121,72
|
-25,35%
|
Desligados
|
4.644,93
|
3.368,66
|
-27,48%
|
Norte e Nordeste são destaque entre as regiões
Os dados mostram também crescimento percentual no número de empregos nos bancos nas regiões Norte e Nordeste acima da média nacional. As novas vagas criadas significam expansão de 7,17% do emprego bancário na região. O Nordeste também apresentou expressivo aumento do emprego (6,07%), como resultado de um saldo positivo de 3.506 vagas geradas no período analisado. Na média nacional, o incremento das vagas ficou em 2,48%.
Entretanto, em termos absolutos, a região Sudeste registrou o maior saldo de emprego, com a geração de 4.794 vagas. No extremo oposto, a região Centro-Oeste apresentou o menor saldo, com a criação de 973 postos de trabalho em 2011.
Região do País
|
Número de Trabalhadores em dez/2010(1)
|
Saldo de emprego 2011
|
Expansão do emprego
|
Norte
|
16.151
|
1.158
|
7,17%
|
Nordeste
|
57.724
|
3.506
|
6,07%
|
Sudeste
|
294.093
|
4.794
|
1,63%
|
Sul
|
69.748
|
1.547
|
2,22%
|
Centro-Oeste
|
45.381
|
973
|
2,14%
|
Total
|
483.097
|
11.978
|
2,48%
|
Contudo, os números revelam uma grande disparidade de remuneração entre as regiões. Na região Norte, a remuneração média de admissão foi de R$ 1.581,90, aproximadamente 46,70% inferior à remuneração de admissão registrada na região Sudeste, que foi de R$ 2.972,23.
Além disso, a diferença de remuneração entre desligados e contratados também é maior fora do Sudeste, atingindo impressionantes 52,78% no Centro-Oeste. Em todas as regiões os salários dos novos funcionários foi ao menos 45% menor que o daqueles que deixaram as empresas - com exceção do Sudeste, onde essa diferença ficou em 29,24%.
"Esses dados comprovam que os bancos adotam uma remuneração diferenciada por regiões, discriminando os que estão fora do eixo Sul-Sudeste, o que reforça ainda mais a luta dos bancários por igualdade de oportunidades", conclui o presidente da Contraf-CUT.
Região do País
|
Admitidos
|
Desligados
|
Saldo
|
Diferença da Rem. Média (%)
|
||||
Nº de trabalhadores
|
Part. (%)
|
Rem. Média
(em R$) |
Nº de trabalhadores
|
Part. (%)
|
Rem. Média
(em R$) |
|||
Norte
|
1.703
|
5,58%
|
1.581,90
|
545
|
2,94%
|
2.898,95
|
1.158
|
-45,43%
|
Nordeste
|
5.055
|
16,55%
|
1.717,93
|
1.549
|
8,35%
|
3.400,79
|
3.506
|
-49,48%
|
Sudeste
|
17.802
|
58,30%
|
2.972,23
|
13.008
|
70,09%
|
4.200,41
|
4.794
|
-29,24%
|
Sul
|
3.874
|
12,69%
|
2.062,20
|
2.327
|
12,54%
|
3.956,33
|
1.547
|
-47,88%
|
Centro-Oeste
|
2.103
|
6,89%
|
1.900,30
|
1.130
|
6,09%
|
4.024,58
|
973
|
-52,78%
|
Total
|
30.537
|
100,00%
|
2.497,79
|
18.559
|
100,00%
|
4.054,14
|
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