23 de Julho de 2008 às 10:38

21/7/83: Greve Geral convocada pela Comissão Pró-CUT

São Paulo - No começo dos anos 1980 ainda perdurava no Brasil o regime militar, que se enfraquecia com a situação econômica caótica que tomava conta do país, com desemprego, repressão, inflação. A crise se agrava em 1982, quando o governo passa a recorrer ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e torna o Brasil refém de suas determinações. A nova política elevou os juros para conter a inflação e determinou novas regras para os salários, com decretos de arrocho salarial.  A situação era insustentável e o clima de insatisfação preconizava a greve geral.
 
Em maio de 1983, o governo baixa o Decreto-Lei 2.025, que previa a extinção de benefícios dos trabalhadores das empresas estatais. Para conter os protestos que se desencadeavam, o governo e a “grande imprensa” iniciam uma campanha contra esses trabalhadores com a alegação de que eram “privilegiados” que ganhavam acima da média e contavam com benefícios que a “sociedade” não podia bancar.
 
No dia 16 de junho, 35 entidades sindicais e associações de funcionários públicos aprovam o estado de greve, em protesto contra o decreto. Diversos setores da sociedade – estudantes, partidos de esquerda, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Associação Brasileira de Imprensa (ABI), entre outros – se solidarizaram com os trabalhadores, manifestando publicamente suas posições. Várias bases de petroleiros aderem ao estado de greve Campinas, Rio Grande do Sul, Pará, Minas Gerais, Cubatão e Duque de Caxias.
 
O governo recuou, mas no dia 29 de junho o presidente Figueiredo anuncia mais um decreto de arrocho, o nº 2.036, que retira praticamente todos os direitos do funcionalismo, acabando com o abono de férias, as promoções, os auxílios alimentação e transporte, o salário adicional anual e a participação nos lucros.
 
Alguns dias depois, em 05 de julho, os petroleiros do turno da noite da REPLAN entram em greve, desafiando a ditadura militar. Foram 153 trabalhadores demitidos – o correspondente a 10% do efetivo, além da intervenção no Sindicato e cassação de dirigentes.
 
Os petroleiros de Mataripe, no Estado da Bahia, também entraram em greve. O sindicato foi igualmente interditado e foram 205 demissões. Os metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema pararam em solidariedade aos petroleiros e o sindicato da categoria foi outro que sofreu intervenção, com o exército de prontidão no ABC Paulista.
 
No dia 14 de julho de 1983, um novo decreto – o famoso 2.045 – foi publicado pelo governo com o objetivo de arrochar ainda mais os salários. A medida atingia também os aluguéis e o Sistema Financeiro da Habitação (SFH).
 
A greve geral era iminente e uma intensa mobilização de membros do governo federal foi desencadeada para tentar evitar a paralisação com ações severas para reprimir o movimento. Mesmo sob ameaças, os dirigentes sindicais trabalhavam freneticamente para dar os últimos retoques nos preparativos da greve. Milhares de panfletos foram distribuídos por sindicatos e pela Comissão Pró-CUT,  orientando os trabalhadores. Um comando-geral da greve dirigia os preparativos por meio de uma central de informações instalada na Câmara Municipal de São Paulo. Outra comissão de dirigentes sindicais visitou a Assembléia Legislativa.
 
21 de julho, Greve Geral - Com toda essa mobilização, o dia 21 de julho de 1983 amanheceu com cerca de 3 milhões de trabalhadores e trabalhadoras de importantes categorias em vários estados parados. As pressões e a feroz repressão desencadeada contra as direções dos sindicatos que lideraram a greve foram intensas. Só na Grande São Paulo, houve mais de 800 prisões. Mas o saldo da greve geral foi considerado amplamente positivo.
 
O dia 21 de julho de 1983 ficou assinalado na história como a data em que os trabalhadores protagonizaram o maior desafio ao regime de 1964. Logo em seguida, no 28 de agosto, os trabalhadores criam a Central Única dos Trabalhadores (CUT) - Nasce um sindicalismo autêntico que mudaria para sempre as relações trabalhistas travadas no Brasil até então.
 

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