7 de Novembro de 2011 às 08:50

Banco Central expõe apetite dos bancos em meio a onda de lucros recordes

Duas das maiores instituições financeiras do país - uma privada, outra pública - acabam de divulgar ganhos recordes. Na véspera de Finados, o Itaú informara um lucro capaz de levantar defunto, R$ 10,9 bilhões, o maior da história bancária em três trimestres. Na volta do feriado, foi a vez de o Banco do Brasil anunciar um feito particular - embolsou R$ 9,2 bilhões até setembro.

Lucro bancário astronômico não é novidade num país que convive com as mais altas taxas de juros do mundo por um período ininterrupto (16 anos) como nunca se viu antes. Incomum é assistir a um dos principais responsáveis pela situação, o Banco Central - que com seu juro básico campeão influencia todas as taxas do país -, apontar a nudez dos reis do sistema financeiro.

O apetite das instituições está exposto em relatório anual do BC sobre o setor bancário divulgado, por coincidência, nesta quinta (3). O documento disseca a contabilidade das empresas e identifica o destino que dão ao dinheiro arrecadado com uma parte da taxa de juros chamada spread.

Spread é aquele percentual que todo banco adiciona ao juro do BC - e a taxa Selic é uma espécie de custo da matéria prima (dinheiro) das instituições -, na hora de calcular quanto cobrará por um empréstimo. Mais da metade do spread é margem bruta de lucro, diz o relatório. Um terço vira lucro líquido.

Além de enriquecer, o spread também serve para os bancos arranjarem recursos com os quais pagar funcionários e impostos e proteger-se de calotes. Dois anos atrás, uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial apontava o Brasil como spread medalha de prata no planeta - o ouro pertencia ao Zimbábue.

Em 2010, a fatia "margem bruta de lucro" subiu dentro do spread total, segundo o BC, de 49% para 54% frente o ano anterior. Descontados os tributos recolhidos sobre tais ganhos, a fatia "margem líquida" também aumentou a participação no spread, chegando a 32% (era de 29% em 2009).

No documento, o BC afirma que a margem bruta é componente "relevante" do spread, "havendo espaço para redução". Uma das sugestões que faz para baixá-lo mexe, porém, com os cofres públicos, não com o apetite das instituições. O fisco estaria errado ao cobrar delas impostos sobre receitas que nem o BC, como xerife bancário, reconhece como sendo dos bancos.

A gula do sistema financeiro é generalizada, mas, no relatório do BC, observa-se um pouco mais de recato por parte das instituições públicas. Elas trabalham com taxas de juros, spread e lucro menores.

De 2004 em diante, diminuíram-nas bem mais do que as particulares. A queda do juro foi duas vezes maior. O spread, que era mais alto, agora é inferior. Em 2010, a margem bruta de lucro dos bancos públicos equivalia a 50% do spread total. Entre os privados, bateu em 57%. Na fatia "líquida", outra diferença: 30% nos públicos, 34% nos privados.


Fonte: Agência Carta Maior

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