30 de Dezembro de 2008 às 12:23
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A crise financeira internacional não deverá, na visão do Banco Central, encerrar o atual ciclo de expansão do crédito, que é o mais longo desde a edição do Plano Real, em 1994. Os bancos têm em caixa R$ 447,6 bilhões para emprestar, depois das várias medidas adotadas pelo governo desde setembro para injetar liquidez no sistema financeiro.
É um volume de recursos mais do que suficiente para sustentar uma expansão de 16% na carteira de crédito em 2009, conforme projeção oficial da autoridade monetária. Se confirmada, a taxa de crescimento cairá à metade em relação aos 32% esperados para 2008. Mas chegará próximo da média observada desde o Plano Real, que é de 16,7%.
Às vésperas do início de 2009, os bancos têm mais dinheiro disponível para bancar a expansão das carteiras de crédito do que tinham, por exemplo, neste ano. Em 2008, dispunham de R$ 268,1 bilhões, numa medida que leva em conta a diferença entre o que as instituições financeiras captam de seus clientes (o chamado M4) e o que entregam ao governo pela compra de títulos, compulsórios e operações do mercado aberto, entre outros (a chamada base monetária ampliada, conhecida como B2).
“Considero uma expansão de 16% muito boa”, avalia o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. “É mais do que o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) esperado em 2009, que o BC projeta em 3,2%”.
Mesmo antes da crise mundial, o BC já esperava uma desaceleração na contratação do crédito, como resposta ao ciclo de contenção monetária iniciado em abril, que elevou a taxa básica de 11,25% para 13,75% ao ano. Com a turbulência internacional, o BC passou a injetar recursos no mercado bancário, por meio de corte de compulsórios. O objetivo foi evitar uma queda maior do crédito do que já seria esperada com o aperto monetário. Mas ainda é uma incógnita o que os bancos farão com a montanha de dinheiro disponível.
O diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita, diz que é difícil precisar quando as medidas surtirão efeito no crédito. “Tende a acontecer nos próximos meses e trimestres”, afirmou Mesquita na divulgação do relatório de inflação, na semana passada. “Leva tempo para o mercado identificar e explorar as vantagens criadas pelas medidas”.
Um dos problemas é que o BC não tem modelos econômicos que apontam com exatidão quanto e quando alterações em recolhimentos compulsórios afetam o crédito bancário e a atividade econômica. O conhecimento acumulado restringe-se aos efeitos de mudanças na taxa de juros sobre a economia.
Se é difícil fazer previsões sobre como os compulsórios afetam a oferta de crédito, a equação se torna ainda mais complicada quando inclui variáveis como a demanda. As notícias sobre crise retraíram os consumidores e os clientes bancários, que estão demandando menos crédito. A expectativa é que a confiança seja restabelecida, e a demanda de crédito por empresas e pessoas físicas se restabeleça. Mas, diz Mesquita, é difícil afirmar quando.
“Podemos ter uma desaceleração do crédito, mas o ciclo de expansão vai continuar”, afirma o vice-presidente de finanças da Caixa Econômica Federal, Márcio Percival. “Alguns segmentos de crédito vão cair, como o financiamento de veículos, que vinha exibindo taxas de expansão insustentáveis no longo prazo. Mas existem segmentos importantes do mercado que vão ser pouco afetados pela crise, como o crédito imobiliário e os financiamentos à infra-estrutura”.
O atual ciclo de crédito começou em 2004 e já é o mais longo desde o Plano Real, acumulando uma expansão de 197% até novembro. A economia viveu outros dois ciclos de menor duração, um entre 1994 e 1995 e outro entre 2000 e 2002, que acabaram em virtude da outras crises.
A estabilização da moeda levou a uma euforia no mercado de crédito entre 1994 e 1995, que se expandiu a taxas médias anuais de 35%. Em 2000, o Brasil iniciou outro ciclo de crédito, com uma expansão de 13,3%, puxada por medidas de desoneração tributárias sobre empréstimos e cortes de depósitos compulsórios.
O ciclo atual é resultado da queda dos juros básicos ocorrida desde 2003 e de medidas que ampliaram a segurança jurídica dos empréstimos, como a regulamentação do crédito consignado e o fortalecimento da legislação sobre alienação fiduciária nos financiamentos de veículos e nos empréstimos imobiliários.
Alex Ribeiro, do Valor Econômico