28 de Março de 2012 às 12:08

Bancos estrangeiros se encolhem no Brasil

 

Carolina Mandl - Valor Econômico

 

Os bancos estrangeiros voltaram no tempo no Brasil. Retrocederam quase uma década e meia em termos de participação de mercado, retomando patamares vistos logo após o desembarque do HSBC, que adquiriu o finado Bamerindus em 1996, segundo dados do Banco Central. A ignição dessa máquina do tempo são os desdobramentos da crise que Estados Unidos e Europa atravessam desde o colapso do banco de investimento Lehman Brothers, em 2008.

 

Os bancos estrangeiros perderam espaço para os locais nos principais indicadores da força de uma instituição financeira. "As matrizes, principalmente na Europa, passam por processos de desalavancagem. É natural que os bancos estrangeiros reduzam ou vendam operações em alguns países", diz Alexandre Albuquerque, analista de bancos da agência de classificação de risco Moody's.

 

Se considerado o patrimônio líquido, a fatia dos estrangeiros na soma total das instituições que estão no Brasil caiu de 33,62% para 19,17% nos últimos dez anos. Foi a maior redução entre os itens analisados pelo Banco Central: patrimônio, operações de crédito, ativos e depósitos. Nos empréstimos, a perda foi de 12,9 pontos percentuais, encerrando 2011 em 17,58%.

 

Não foram poucos os casos de debandada do Brasil. Com problemas na Escócia, o Royal Bank of Scotland (RBS) anunciou sua saída do país em outubro do ano passado. A notícia veio apenas quatro meses depois de o banco receber a licença para operar no país. O RBS avaliou que não seria prudente se comprometer com um novo investimento, em um momento em que a matriz precisava de uma injeção de capital.

 

O WestLB também já noticiou que, como parte de uma reestruturação dos bancos estatais da Alemanha, está colocando todos os seus ativos à venda, o que inclui a unidade brasileira.

 

Em recente entrevista ao Valor, Louis Bazire, presidente do BNP Paribas na América Latina, afirmou que daqui para frente o banco francês deve colocar mais ênfase nas operações que consumam menos capital no Brasil. "Estamos mais focados na desintermediação bancária. Para o cliente, tanto faz o meio como conseguirá o dinheiro." O executivo do BNP não descarta a venda de participação em alguns negócios que o banco tem no país, que incluem banco, financeira, distribuidora de seguros e até uma empresa de gestão de frotas.

 

O português Banco Espírito Santo (BES) vai na mesma linha de direcionar sua atividade para operações que não demandem capital, como gestão de recursos.

 

Mesmo Santander e HSBC, os dois principais bancos europeus de varejo com presença no Brasil, foram afetados pelos problemas da matriz. Apesar de bastante capitalizado no país, o Santander desacelerou nos últimos dois anos a expansão da carteira de crédito. Isso desagradou os investidores do banco, já que a instituição levantou R$ 13,2 bilhões em uma oferta de ações em 2009 com o objetivo de ganhar mercado no Brasil. O banco espanhol também vendeu uma fatia da subsidiária brasileira com o objetivo de fortalecer sua estrutura de capital na Espanha.

 

O HSBC, por sua vez, já tentou se desfazer de alguns ativos, como da financeira Losango e das carteiras de financiamento a veículos e de crédito consignado para não-correntistas. Por enquanto, o banco ainda não teve êxito nessa estratégia, mas em diversos países como Estados Unidos e Polônia, o HSBC já vendeu operações.

 

Apesar dessa coleção de casos, a redução da presença dos estrangeiros no país não é um tema que tem preocupado o governo brasileiro até agora.

 

O Valor apurou que a interpretação da equipe econômica é que, de forma geral, apesar de estarem encolhendo, os bancos estrangeiros estão saudáveis no país, sem impor riscos ao sistema. Isso porque, ao mesmo tempo em que o patrimônio deles está se reduzindo, as operações de crédito também vêm perdendo espaço recentemente, sem criar um descompasso.

 

Um eventual problema poderia ser a concentração do crédito entre poucos bancos num mercado já bastante concentrado. Os quatro maiores bancos do país detêm 69,2% do mercado, e os dez maiores, 90%.

 

A avaliação, entretanto, é que a demanda por licenças de bancos asiáticos e americanos para operar no país possa compensar essa atual debandada.

 

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