26 de Maio de 2008 às 11:06
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O crescimento econômico do Brasil, os novos projetos de infra-estrutura e as fusões e aquisições têm levado as empresas brasileiras a uma demanda frenética por financiamento em um momento em que a crise de crédito externa suga o balanço dos bancos estrangeiros. Resultado: as maiores instituições financeiras nacionais têm aumentado sua participação nos grandes empréstimos corporativos e ampliado suas carteiras em mais de 36% em 12 meses.
O empréstimo de R$ 16 bilhões da Telemar Oi para comprar a Brasil Telecom é um exemplo. Para evitar o custo de tomar R$ 16 bilhões necessários de uma só vez, o que chegou a ser cogitado inicialmente, mas foi descartado, a Telemar Oi está negociando separadamente com bancos a realização de diversos empréstimos bilaterais ou pequenos “club deals”, com dois ou três bancos participantes sob um mesmo contrato. Segundo apurou o Valor, deverão entrar na transação o Itaú BBA, o Banco do Brasil e o Bradesco. De nome estrangeiro citado pelo mercado, por enquanto, apenas um: o Santander.
De imediato, a empresa precisa de R$ 4,8 bilhões para a aquisição do controle da Brasil Telecom, operação ainda em análise pelos órgãos reguladores brasileiros. Serão necessários mais R$ 11 bilhões, aproximadamente, dependendo dos valores da ação em dezembro, para levar a cabo a proposta de pulverização das ações da Brasil Telecom, permitindo assim que o Citigroup - que está se desfazendo de US$ 400 bilhões em ativos a nível internacional em três anos - saia da empresa. Simultaneamente à compra da Brasil Telecom, a Oi vai reorganizar sua estrutura acionária.
Outro exemplo importante é o financiamento de R$ 4 bilhões para a usina hidrelétrica de Santo Antonio, no Rio Madeira, um projeto da Construtora Norberto Odebrecht, de Furnas e da Cemig. Acertaram participar do repasse do Banco Nacional de Desenvolvimento, de prazo de vencimento em dez anos, o Banco do Brasil, o Bradesco, o Unibanco e, novamente, só um banco internacional: o Santander.
“Há bancos estrangeiros reduzindo suas posições em crédito no mundo todo e muitos clientes deles têm vindo nos procurar em busca de financiamento” , afirma Allan Simões Toledo, diretor comercial do Banco do Brasil. Ele não quis citar o nome dos bancos nem comentar o empréstimo à Telemar Oi. Mas lembrou que empréstimos intercompanhias de multinacionais às suas filiais no Brasil estão sendo pagos neste momento, por causa das dificuldades das matrizes com a crise externa, o que aumenta a necessidade de crédito corporativo no país.
Apesar dos custos maiores de captações para os bancos brasileiros, a liquidez continua amplamente disponível, diz Toledo. “Não tive qualquer restrição de nossa tesouraria à ampliação do crédito”, afirma. Segundo ele, a carteira de crédito do atacado do BB cresceu 10,6% no primeiro trimestre, para R$ 64 bilhões, acumulando 30,79% de aumento em 12 meses.
A carteira de crédito para grandes empresas do Unibanco cresceu 12,2% no trimestre sobre dezembro e 28,8% em doze meses, atingindo R$ 24,986 bilhões. No Bradesco, o aumento foi de 5,7% no trimestre e de 36,5% em doze meses, para R$ 61,464 bilhões; e no Itaú, de 4,5% no trimestre e 25,5% em doze meses, para um total de R$ 37,38 bilhões.
A dificuldade de captar recursos no mercado de capitais - por meio de eurobônus no exterior ou de ações na Bolsa de Valores de São Paulo - também fez com que as grandes e médias empresas se voltassem para o crédito dos bancos nacionais, diz Toledo. “Mas, agora que o Brasil virou grau de investimento, as emissões públicas iniciais de ações e captações por meio de eurobônus deverão voltar a acontecer”, diz ele.
Do total da carteira do atacado do BB, o crédito em reais, usando o caixa do banco, cresceu 47,3% em 12 meses até o final do primeiro trimestre, para R$ 40,5 bilhões. Os repasses de financiamentos do BNDES subiram 55,55%, para R$ 7 bilhões. Já os financiamentos em dólar, incluídos pré-pagamentos à exportação, Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) e Adiantamentos sobre Cambiais Entregues (ACE), ficaram estáveis em R$ 17 bilhões.
Segundo Toledo, as perspectivas de crescimento no crédito de atacado continuam mais do que positivas. Diretor de importante instituição financeira acredita que os bancos nacionais não vão dar conta de prover todo o volume de investimento que as empresas brasileiras precisam para crescer e se consolidar no país e no mundo. Ele acredita na retomada do mercado de capitais, que, na sua avaliação, será fundamental para permitir a continuidade das fusões e aquisições e do crescimento econômico.
Cristiane Perini Lucchesi, do Valor Econômico