26 de Fevereiro de 2010 às 11:25

Bancos públicos devem manter dianteira no crédito, indica Banco Central

Valor Econômico
Mônica Izaguirre, de Brasília


O Banco Central refez suas projeções e concluiu que os bancos públicos continuarão liderando a expansão do crédito em 2010. Em vez de 17,1% como estava previsto anteriormente, a carteira das instituições financeiras estatais deverá crescer 20%.


As operações dos bancos privados, no entanto, deverão se expandir num ritmo quase igual ao dos públicos e fechar o ano com saldo 19% acima do existente no fim de 2009. As previsões foram divulgadas ontem pelo chefe adjunto do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.


O ano começou com elevação na taxa média de juros. Tomado como referência um universo de R$ 722,1 bilhões em operações de crédito livre (não direcionado), a taxa passou de 34,3% para 35,1% ao ano em janeiro, comparativamente a dezembro. Os juros subiram basicamente por aumento de spread e não por aumento do custo de captação dos bancos.


A expectativa do BC sobre a ampliação das carteiras indica que, comparativamente ao desempenho obtido no ano passado, o sistema financeiro privado apresentará maior dinamismo, pois mais que dobrará sua taxa de crescimento. No caso dos bancos privados sob controle nacional, essa taxa foi de apenas 8,7% em 2009.


No caso dos privados sob controle estrangeiro, sequer houve crescimento no ano passado, pois a respectiva carteira de crédito caiu 0,4% no período. Para 2010, o BC acredita em expansão de 19% em ambos os casos.


Embora superior a isso, o aumento esperado no volume de operações dos bancos estatais, por sua vez, indica perda de ritmo em relação a 2009. No ano passado, eles viram sua carteira de crédito ampliar-se em expressivos 31,1%, taxa mais de 50% superior à prevista para 2010. A perda de velocidade de expansão, nesse caso, representa uma volta à normalidade.


É que o salto da carteira das instituições estatais em 2009 decorreu de um esforço excepcional feito pelo governo federal, que não hesitou em fazer dos bancos sob seu controle um instrumento de combate aos efeitos da crise financeira mundial. Eles fizeram mais operações de crédito do que fariam inicialmente, para compensar a escassez de crédito privado.


A crise também foi motivo do baixo crescimento das operações do sistema financeiro privado em 2009. As instituições se retraíram, parte pelo aumento da aversão a riscos, parte pela redução da liquidez. Sob essa perspectiva, portanto, a retomada do ritmo em 2010 também representa volta à normalidade.


No seu conjunto, as operações de crédito do sistema financeiro deverão crescer 19% este ano. Em janeiro, houve aumento de apenas 0,7%, mas porque há, todo início de ano, redução sazonal da demanda por novas concessões de crédito, informou Túlio Maciel.


Com isso, o saldo, que era de aproximadamente R$ 1,411 trilhão no fim de dezembro, subiu para R$ 1,422 trilhão, cifra equivalente a 44,6% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado pelo BC para o período de 12 meses encerrado em janeiro.


Desse total, R$ 591,685 bilhões correspondem à carteira dos bancos estatais, R$ 574,436 bilhões à dos bancos privados sob controle nacional e R$ 256,216 bilhões à dos bancos privados sob controle estrangeiro.


Em relação às taxas de juros, o BC informou que a média subiu de 42,7% para 43% ao ano no caso do crédito a pessoas físicas. Embora ainda bem inferiores, os juros médios das operações com pessoas jurídicas subiram ainda mais, passando de 25,5% para 26,5% ao ano.


Praticamente toda a elevação na taxa média geral correspondeu à elevação de spread, que aumentou 0,7 ponto percentual em janeiro, para 25,1 pontos percentuais.


O spread é a diferença entre a taxa paga pelo banco para captar recursos e a que ele pratica na ponta do crédito. No caso das operações com empresas, o spread, que subiu de 16,5 para 17,5 pontos percentuais, respondeu integralmente pela variação da taxa média de juros.


Para as pessoas físicas, por sua vez, a diferença entre taxa de captação e taxa de aplicação dos bancos subiu menos, de 31,6 para 31,8 pontos percentuais.


A subida de spreads detectada pela pesquisa mensal do BC veio após dois meses seguidos de queda. A taxa média final de juros também tinha caído em novembro e dezembro.


Números parciais, relativos aos primeiros oito dias úteis do mês, indicam que em fevereiro poderá haver nova elevação tanto de juros quanto de spreads.


Túlio Maciel disse que, apesar disso, o BC não dispõe de elementos para afirmar que esse movimento represente uma tendência. "Poder ser que seja apenas um ponto fora da curva, como foi a elevação ocorrida em outubro", disse o chefe adjunto do Depec.


Tanto a taxas finais quanto os diferenciais em relação a custo de captação são apurados pelo Banco Central levando em conta o volume de concessões feito no mês em cada uma das modalidade de crédito, que são muitas. Ou seja, a média é ponderada, de acordo com o peso de cada uma no total.


Como existem modalidades mais caras e modalidades mais baratas, mesmo sem alteração das taxas de cada uma, a pesquisa da autoridade monetária pode, portanto, apontar subida de juros médios, se houver uma mudança significativa do mix de concessões de crédito de um mês para outro, explicou Túlio Maciel.


Segundo ele, efetivamente houve uma mudança de mix em janeiro. Por isso, acrescentou, "não necessariamente" a elevação das taxas médias de juros e dos spreads decorreram de uma elevação da margem de lucro dos bancos.


Conforme o chefe adjunto do Depec, o BC notou aumento de demanda por modalidades mais caras de crédito, como a conta garantida (cheque especial das empresas), principalmente no segmento de pessoas jurídicas. Não foi a toa que a taxa subiu mais justamente nesse segmento, destacou.


A pesquisa mensal do BC apontou ainda ligeira redução da inadimplência das operações tomadas como referência para levantamento das taxas de juros (R$ 722,1 bilhões, de um total de R$ 1,422 trilhão).


O percentual de operações com parcelas em atraso há mais de 90 dias caiu pelo segundo mês consecutivo, de 5,6% para 5,5%. No segmento de pessoas físicas, a inadimplência recuou de 7,8% para 7,7%. Já entre as empresas, manteve-se em 3,8%.


Fonte: Valor Econômico

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