21 de Outubro de 2008 às 00:41

Banqueiros ignoram compulsório para ganhar com a crise internacional

Instituições preferem aumentar taxas e apertar pequenas e médias empresas

São Paulo - Já não colava a choradeira dos banqueiros que se colocavam como possíveis vítimas da crise financeira mundial - chegaram até tentar a vender a idéia para a sociedade de que a legítima Campanha Nacional dos Bancários era fora de hora. Agora, porém, além de não apresentar nenhum sinal concreto de que estão sendo afetados, eles ainda se aproveitam da crise para ganhar ainda mais às custas dos cidadãos para quem tentaram distorcer a realidade.
 
Segundo reportagem publicada na segunda-feira, dia 20, pelo O Estado de S. Paulo, em vez de usar a liberação do compulsório autorizada pelo Banco Central (BC) exclusivamente para manter a oferta de crédito em padrões próximos aos de antes da crise - e conseqüentemente evitar a subida dos juros - os bancos preferiram dobrar as taxas. E pior, usam esse dinheiro do compulsório para comprar títulos públicos do governo federal. O jornal fala que dos R$ 100 bilhões liberados, R$ 65 bilhões foram usado para comprar os títulos.
 
Com essa prática, o banco ganha duas vezes. Uma ao usar um dinheiro que estava parado no BC para comprar títulos públicos e outra ao aumentar os juros do crédito.
 
Compulsório é uma porcentagem do total que é depositado nos bancos recolhida pelo Banco Central (BC) também como uma reserva para ser usada em momentos onde há retração da liquidez. Liquidez é capacidade de os bancos oferecerem dinheiro para a sociedade por meio, por exemplo, de crédito.
 
“Como os bancos brasileiros não estão ligados aos motivos da crise como estão os norte-americanos e alguns europeus, eles não apenas não estão perdendo, como até estão ganhando”, diz o presidente do Sindicato de São Paulo, Osasco e Região, Luiz Cláudio Marcolino, que completa: “por isso não cola a idéia de que nossa campanha nacional é inoportuna. Pelo contrário, é ainda mais legítima, pois os bancos lucam muito às custas dos trabalhadores. Exigimos a nossa parte por meio da valorização na mesa de negociações”.
 
Vítimas - A atitude dos banqueiros de distorcer o uso do compulsório e ainda aumentar a taxa de juros tem uma vítima: a sociedade. Segundo O Estado de S. Paulo, as empresas brasileiras já começam a ser sufocadas pela falta de dinheiro para tocar os negócios. Algumas não chegam nem a ser atendidas.
 
“Parece que estamos pedindo um favor aos bancos”, diz a presidente da Dudalina, Sônia Hess de Souza, que tentou, sem sucesso, fazer um Adiantamento de Contrato de Exportação (ACE) de apenas US$ 50 mil em três grandes bancos. “A impressão é de que todo mundo combinou de fechar o caixa”, completa a empresária, que emprega 1,3 mil pessoas.
 
“Estamos matando um leão por dia”, diz Renato Maurício de Paula, diretor-financeiro da Kissol, indústria de calçados que emprega 300 funcionários em Franca (SP).
 
André Rossi, do Seeb/SP, com O Estado de S.Paulo
 

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