17 de Setembro de 2008 às 12:28

Brasil "estaria de quatro" sem economia forte, diz Mantega

“O Brasil já estaria de quatro em outras circunstâncias” de uma crise internacional como a atual, na avaliação do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Segundo ele, no entanto, o mercado brasileiro continua forte e, temporariamente, deve substituir o mercado externo pelo interno. “Não é que isso seja bom, mas é conjuntural”, explicou o ministro, durante palestra no 5º Fórum de Economia realizado pela Escola de Economia de São Paulo e a Fundação Getúlio Vargas. De acordo com o ministro, o Brasil tem hoje melhores fundamentos fiscais e monetários e a inflação deve terminar o ano dentro do intervalo de tolerância da meta de 4,5% (com teto de 6,5%). “Talvez, sejamos o único País a realizar essa proeza”, considerou, destacando que a crise financeira internacional não gerou nenhum contágio nos bancos brasileiros.
 
“O problema está circunscrito àquelas instituições que atuaram no segmento subprime (de hipotecas) nos Estados Unidos e suas derivadas. Essas derivadas não atingiram os bancos brasileiros, que estiveram oferecendo mais crédito à economia brasileira e fazem negócios aqui. Os bancos brasileiros estão sólidos. Talvez possa ocorrer algum tipo de efeito sob suas ações negociadas em bolsa”, declarou. Mantega destacou que tais impactos, se ocorrerem, serão mínimos.
 
Embora reconheça que a crise internacional se agravou, o ministro destacou que a robustez da economia nacional indica aos investidores internacionais que o Brasil ainda é uma das melhores alternativas de negócios no mundo. “O País é investment grade e pode receber investimentos e fundo de pensão globais. Ele continua sendo bem visto (pela comunidade financeira internacional). Se houver uma deterioração do sistema financeiro mundial, haverá menos oportunidades de aplicação. O Brasil pode se manter como uma alternativa das mais favoráveis”, avaliou.
 
De acordo com o ministro, não é possível afirmar, com certeza, a extensão da atual crise, mas ele acredita que a situação no mercado hoje será de nervosismo, em função de problemas com os bancos de investimentos Lehman Brothers e Merrill Lynch. “Possivelmente, isso vai piorar a situação”, previu. “Estamos numa crise bastante séria, a maior depois da segunda guerra mundial (após 1929), que deve reduzir o crescimento dos Estados Unidos, Europa e Japão. Isso deve gerar algumas conseqüências, como encarecimento do crédito devido ao menor volume de recursos destinados pelas instituições financeiras internacionais a esta finalidade. A redução do nível de atividade mundial pode até provocar uma deflação (nas principais economias do planeta). As economias avançadas são o epicentro de um terremoto financeiro”, avaliou.
 
Ele ressaltou que a seriedade da crise, que já ocorre desde agosto do ano passado, não permite fazer prognóstico sobre em quanto tempo acabará. “A questão é saber até que ponto essa crise vai gerar uma retração do crescimento da economia mundial e até que ponto isso vai gerar conseqüências para o Brasil e outros países emergentes. Contudo, acredito que o Brasil deve crescer entre 5,0% e 5,5% neste ano, e próximo de 4,5% em 2009”, disse.
 
“A ação das autoridades financeiras nos Estados Unidos visa a conter os impactos a fim de evitar que ocorra uma crise sistêmica. Esse é o desafio, que é limitar a crise às instituições de crédito que têm maiores problemas. Não sei se vão ter sucesso nessa empreitada. Mas Ben Bernanke (presidente do FED) está empenhado nisso”, comentou. “Por enquanto, a crise nos trouxe alguma perspectiva de encarecimento do crédito e menor ingresso de recurso interno no Brasil. Tudo isso é controlável e não vai impedir que tenhamos um bom crescimento este ano e no próximo”, projetou.
 
Mantega salientou ainda que a desaceleração da economia mundial é certa neste ano e em 2009. E que esse movimento, certamente, levará a uma redução do uso das commodities. “Não sabemos dizer de quanto”, disse, lembrando ainda que o problema da alta dos preços dessas matérias-primas já foi dissipado, mas que a bolsa brasileira ainda sofre porque de suas empresas têm as commodities como negócio.
 
Um dos motivos da queda da bolsa local é que algumas companhias e fundos de pensão estrangeiros precisam “fechar buracos” de suas matrizes. “Há fuga também para segurança, mas talvez os Treasuries (títulos do governo norte-americano) não sejam mais tão seguros quanto eram”, disse. “Ninguém vai pensar, no entanto, que os EUA vão quebrar. Os Treasuries só não estão mais tão fortes”, acrescentou.
 
Dólar – Mantega voltou a afirmar que a atual alta do dólar em relação ao real poderia causar inflação, mas isso não deve ocorrer porque ela será compensada pela queda dos preços das commodities. “A fase de valorização exacerbada do real vista no passado talvez tenha acabado. O câmbio é flutuante não dá para garantir isso, mas parece uma tendência”, afirmou.
 
O ministro lembrou que o dólar já foi cotado a R$ 1,56 há poucos meses e que, na última sexta-feira (12), estava em R$ 1,82. “Esse já foi um salto importante”, considerou. De acordo com ele, o movimento atual deve compensar a perda dos exportadores.
 
Mantega brincou com os participantes do evento afirmando que existe um “reclamômetro” no Ministério e que até o momento não foi detectada nenhuma mudança. “Quando começam a reclamar do ministro é porque a situação está feia. Quando reclamam da mãe do ministro é porque a situação está se agravando”, disse, arrancando gargalhadas da platéia.
 
De acordo com ele, a despeito do cenário de crise internacional, a pior das últimas décadas, o governo aposta na continuação dos investimentos. Mantega salientou que o custo de capital encareceu, que os empréstimos estão mais rarefeitos e que a captação de recursos no mercado acionário se retraiu.
 
Além deste quadro, Mantega destacou que o governo tomou algumas medidas, como o aumento da alíquota do IOF e a criação do compulsório sobre leasing para desacelerar a economia e impedir a disseminação da inflação. Ele lembrou que a balança comercial já perdeu saldo e por isso o balanço de pagamentos tem menos folga do que antes. “Tudo isso mexe com o real, mas temos reservas internacionais (de aproximadamente US$ 200 bilhões), que são uma garantia”.
 

Célia Froufe, da Agência Estado
 

Convênios saiba +

Clube de campo saiba +

Jogos/ Resultadossaiba +

Parceiros