7 de Fevereiro de 2011 às 09:41
Valor Econômico
Adriana Cotias
O custo de captação dos bancos, que praticamente não se moveu em dezembro, começou a ser corrigido neste primeiro bimestre de 2011. Com o início do ciclo de aperto monetário propriamente dito, os ajustes vão rebater nos "spreads" (a diferença entre o que as instituições pagam aos depositantes e aquilo que cobram dos tomadores) e nas taxas na ponta. O preço do crédito, reajustado no dia seguinte ao anúncio das medidas macroprudenciais - que combinaram maior requisito de capital para as instituições emprestarem a prazos longos para a pessoa física com aumento de compulsórios - vai sofrer nova rodada de aumentos.
As carteiras de consumo, diretamente afetadas pelo pacote de aperto no crédito, é que tendem a absorver as maiores correções. Estimativas do economista Alexandre Andrade, da Tendências Consultoria , para o Valor, apontam uma elevação de 6,6 pontos percentuais da taxa média cobrada das pessoas físicas até junho, quando alcançaria o pico de 47,23% ao ano, em comparação aos 40,62% de dezembro. Na ponta da captação, nesse mesmo intervalo, os custos subiriam de 12,14% para 13,61% ao ano, considerando-se mais dois ajustes de 0,50 ponto percentual na Selic, a 12,25% ao ano.
No mercado aberto, o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI, usado nas trocas de dinheiro entre as instituições) saía com taxa efetiva de 11,14% ao ano na quinta-feira passada, em comparação aos 10,64% de 30 dias atrás. As novas emissões de Certificados de Depósitos Bancários (CDB), com prazo de 60 dias, para grandes volumes, subiram de 11% para 11,42% nesse mesmo intervalo.
"Além de todas as limitações impostas (por conta do compulsório e do maior requisito de capital), o custo ficou mais alto, há de se esperar que o preço (do crédito) aumente", diz o diretor de gerenciamento de risco do Citi, Victor Loyola. Tal correção não deve ser, porém, percebida de maneira homogênea no sistema financeiro, porque as instituições vão ter que pesar até que ponto não estariam abrindo mão de produtividade. "A demanda é que vai ditar um pouco isso. Se baixar muito, manter o 'spread' e repassar o aumento de custo de fundo para os tomadores pode sacrificar os volumes."
Com R$ 10,8 bilhões em ativos de crédito até setembro, o executivo afirma que o banco não pretende mexer na sua política de crédito e, como possui porte menor do que os grandes nomes do varejo brasileiro, tem condições de crescer a carteira em ritmo maior do que o mercado.
Quando as alíquotas do compulsório aumentam, o custo geral de captação das instituições também sobe porque parte dos recursos levantados é recolhida ao BC, mas o banco que obtinha dinheiro a 105% do CDI continuou captando nesse mesmo preço até que a Selic fosse efetivamente elevada, explica o economista da Lopes & Filho, João Augusto Salles. "A margem fica mais apertada em função da liquidez e é no 'spread' que os bancos vão primeiro ajustar isso", afirma. "Como dezembro é um bom mês em termos de demanda, os bancos puderam compensar na escala do crédito, não repassando o aumento do custo de forma mais contundente. Agora, janeiro e fevereiro, como são sazonalmente mais fracos, não tem mais conversa, é de se esperar uma nova rodada de elevações na ponta."
Embora a alta dos compulsórios no fim do ano tivessem peso importante para o Bradesco, o banco se encontrava numa situação de liquidez confortável e, por isso, não se viu forçado a elevar o custo de captação, disse o vice-presidente Domingos Figueiredo de Abreu, na teleconferência de resultados na semana passada. Como estratégia de "funding", a ideia é continuar privilegiando a captação por meio de Letras Financeiras (LF) que, no pacote de incentivos ao crédito de longo prazo, ficaram livres do compulsório.
"A letra financeira, cada vez mais, tem se constituído no nosso instrumento preferencial para captação, por enquanto mais dos investidores institucionais, porque não se criou ainda condições de fazermos essa emissão pública para a pessoa física, basicamente", comentou. "Ela nos permite fazer uma captação com prazo mais longo, que é no mínimo dois anos, que é uma coisa que temos buscado."
Na ponta do crédito, a intenção do Bradesco é aplicar neste ano os recursos prioritariamente nas carteiras de pessoa jurídica (expansão projetada entre 16% e 20%), com destaque para as pequenas e médias empresas (20% a 24%), segmento em que o banco pode compensar a menor produção que será direcionada à pessoa física (13% a 17%).
Os juros mais altos na economia também mexem com um dos principais componentes do "spread", que é o risco das operações. Como não têm mais o estímulo do prazo para acomodar o custo mais alto do crédito à pessoa física, as instituições terão que calibrar no preço a maior probabilidade de perdas. Só que nos últimos ciclos de aperto monetário, o "spread" tem subido cada vez menos e essa é uma tendência estrutural, diz Andrade, da Tendências. A melhora dos fundamentos da economia, a aprimoração dos modelos de avaliação de risco e a tendência de juros para baixo no longo prazo explicam tal dinâmica, enumera.
Já nos portfólios de pessoa jurídica o especialista não vê, pelo menos num horizonte de curto prazo, espaço para elevação dos "spreads". Isso porque a oferta de linhas de capital de giro pelo BNDES acabou mudando a composição nas carteiras dos bancos comerciais, efeito que será aos poucos revertido, mas que alterou o patamar de "spread" no segmento corporativo.
Fonte: Adriana Cotias/ Valor Econômico
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