4 de Agosto de 2009 às 09:52
Com inflação em baixa e Bolsa em alta, fundos de pensão retomam superávit
Depois de viver em 2008 o pior ano da sua história recente, o segmento dos fundos de pensão voltou a superar a meta atuarial, com rentabilidade recuperada e crescente graças à ajuda da Bolsa em alta e da inflação em queda no primeiro semestre deste ano.
O surpreendente desempenho do mercado acionário no período permitiu aos que têm maior parcela da carteira em ações obter alta rentabilidade, como a Previ, que atingiu ganhos de 12,4% no Plano 1 e 13,34% no Plano 2. O maior fundo do país voltou a ter superávit de R$ 8,151 bilhões, após encerrar 2008 com déficit acumulado de R$ 26 bilhões.
Outros fundos de grande porte, como Petros, Funcef e Valia também tiveram ganhos acima da meta de 5,7%, o que ocorreu com a maior parte do setor. Mesmo os que priorizaram a renda fixa, como Real Grandeza e Eletros também tiveram suas aplicações valorizadas. A maioria das fundações ouvidas pelo Valor apresentou superávit, à exceção da Petros e da Eletros.
"Foi um bom semestre, impulsionado pela recuperação do mercado de ações, mas ainda não ganhamos tudo que perdemos em 2008", disse Antônio Cruz, conselheiro e coordenador de investimentos da Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp). "O ano passado foi um ano para ser esquecido."
Para ele, o segundo semestre vai garantir ainda um resultado positivo para os fundos, mas certamente menor que o do primeiro por conta dos ganhos na Bolsa. "A evolução do mercado de ações será mais lenta, mas muita gente já obteve nos seis primeiros meses do ano a rentabilidade que esperava no ano inteiro".
Previ
Sérgio Rosa, presidente da Previ, com patrimônio de R$ 127,19 bilhões, tem análise semelhante. A recuperação das contas da fundação dos funcionários do Banco do Brasil se deve ao rendimento das suas aplicações como um todo, que somou R$ 13,6 bilhões. O investimento em renda variável contribuiu sozinho com R$ 12,5 bilhões, a maior fatia do ganho total. "Foi uma boa surpresa pois prevíamos uma Bolsa estável no período, com retomada só no final de 2009".
A Previ conseguiu elevar o valor total de sua carteira de ações entre janeiro e junho para R$ 75,8 bilhões nos dois planos, recuperando R$ 10,7 bilhões do valor da carteira antes da crise, que era de R$ 86,2 bilhões em junho de 2008. Os investimentos com imóveis renderam ao fundo 13,33% e as aplicações em renda fixa, seu maior portfólio, 7,5%.
O superávit do período foi de R$ 8,1 bilhões, garantindo à Previ um excedente acumulado de R$ 33 bilhões. "Se a Previ abater seu passivo do seu ativo, ainda sobra este valor. Bem maior do que uma Mega-Sena", brincou Rosa.
Os planos do presidente da Previ para o segundo semestre não mudam em relação ao primeiro. Ele vai manter uma estratégia de desinvestimento em renda variável na carteira do Plano I, como fez de janeiro a junho, quando vendeu R$ 3 bilhões em ações e investiu apenas na operação de aumento de capital da Brasil Foods. E prevê compra de novas ações para ampliar a carteira do Plano 2, ancorada no IBrX 50 da BM&FBovespa.
Petros
A Petros, que tem o segundo maior patrimônio dos fundos de pensão fechados, de R$ 47 bilhões, teve rentabilidade de 8,06% e um déficit no balanço do primeiro semestre de R$ 245 milhões. Também foi a carteira de renda variável da fundação da Petrobras que teve maior ganho no período entre todos seus investimentos, de 17,04%, informou seu presidente Wagner Pinheiro.
Funcef
A Funcef, dos empregados da Caixa Econômica Federal, tem ganhos projetados de 8,5% entre janeiro e junho, um superávit de R$ 750 milhões e um patrimônio de R$ 34,5 bilhões. A carteira imobiliária, de R$ 2,6 bilhões, correspondente a 8% dos ativos do fundo, foi sua vedete no semestre. Seu portfólio reúne 15 shoppings centers e cinco hotéis.
Assim como outros fundos, a Funcef também investiu em títulos de longo prazo do Tesouro, as NTN-B para 2045. "Nossa carteira está desenhada para um cenário de longo prazo", explica o secretário-geral da fundação, Fabiano Silva. "Foram R$ 20 bilhões alongados". A carteira de renda variável da Funcef, de R$ 10 bilhões, se valorizou 10,69% no período.
Vale
A Valia, dos empregados da Vale do Rio Doce com patrimônio de R$ 10,7 bilhões, teve rentabilidade no semestre de 10,7%, o dobro da meta atuarial, puxada por investimentos em renda variável que acumularam ganho de 29,57%.
A fundação aproveitou a crise para aplicar R$ 200 milhões na compra de papéis da BRMalls, GP Investimentos, Localiza e Dasa, informou Eustáquio Lott, presidente do fundo. Depois de fechar com déficit em 2008, a fundação teve superávit de R$ 435 milhões no primeiro semestre. Nos próximos seis meses , a Valia manterá foco na Bolsa e em imóveis e nos fundos de infraestrutura, disse Lott.
Furnas
A fundação Real Grandeza, de Furnas, privilegiou a renda fixa no de janeiro a junho e fugiu do mercado financeiro. O fundo fechou o período superavitário em R$ 230 milhões e rentabilidade de 11,11%. Sergio Wilson Fontes, presidente do Real Grandeza, disse que o principal investimento foi em títulos do governo de longo prazo. Até junho a rentabilidade da aplicação foi de 12,69%. Fontes explicou que a fundação não esqueceu o mercado acionário, cuja carteira lhe rendeu no período 26,02%.
Eletros
A fundação Eletros também optou por reduzir sua exposição à renda variável adotando uma estratégia similar à da Real Grandeza, investindo em NTN-B com vencimento em 2045. Com isto, atingiu uma rentabilidade de 9% no semestre. Mas ainda se manteve deficitária em R$ 75 milhões.
"Fechamos o ano com déficit de R$ 107 milhões e a meta é chegar ao fim do ano com déficit de R$ 53 milhões", prevê o diretor financeiro do fundo, Luis Guilherme Pinto. "Terminamos o ano de 2008 com perda de 4,74% e agora já estamos positivos, com percentual de rendimento bem acima da meta", diz Pinto.
Fonte: Valor Econômico/ Vera Saavedra Durão e Paola Moura - Rio
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