14 de Dezembro de 2010 às 11:29

"Combater o assédio é questão de inteligência", diz psicólogo Roberto Heloani

O interesse no combate ao assédio moral não deve ser apenas do trabalhador, mas também do empregador. A tese foi defendida pelo doutor em Psicologia Social e professor da FGV Roberto Heloani, que participou ao vivo do programa Momento Bancário em Debate da quinta-feira 9 ao lado da presidenta do Sindicato, Juvandia Moreira, e do secretário de saúde da entidade, Walcir Previtale.



"Uma diretoria inteligente tem de ver que um dos seus grandes capitais são os funcionários. Tratar bem, além de ser uma questão ética, moral e legal, é também uma questão de inteligência", afirmou o especialista. Ele argumenta que manter um ambiente de trabalho minimamente respeitoso faz com que o rendimento seja melhor.



O especialista defende ainda que os maus tratos levam as empresas a ter de oferecer planos de saúde cada vez mais caros, além de gerar um considerável passivo trabalhista. Heloani lembra ainda o estrago que casos de assédio moral fazem na imagem das empresas. "Fica muito mal. Ninguém acredita em um trabalho em que não haja um mínimo de respeito."



Apesar de enxergar o combate ao assédio moral como uma forma mais lucrativa de gestão, Heloani reforça que o mais importante é o respeito aos seres humanos. "Ter sua saúde física e mental preservada não é um favor, é uma obrigação. Manter um ambiente adequado é cumprir uma garantia constitucional. E um indício de civilização."



Ele citou casos do que chamou de "tortura mental". "Um funcionário, não de banco, teve tudo de sua sala retirado. Só foi deixado para ele uma lata de lixo. Não é preciso ser um especialista de psicologia para saber o que isso significa. Ele virou a lata de cabeça para baixo e ficou sentado", diz, ressaltando que o isolamento, ou "lógica da solidão", é uma das táticas mais comuns. "Há um corte na comunicação. Ela (pessoa) vai se fragilizando, vai adquirindo uma certa pecha pelos colegas, que não sabem direito o que está acontecendo. (A vítima) é vista como uma pessoa que não quer trabalhar, vai ficando humilhada e começa a se perguntar 'o que é que eu fiz para merecer isso?'"



O secretário de Saúde do Sindicato, Walcir Previtale, lembrou que o isolamento é comum entre os bancários, especialmente para quem volta de licença. "Muitos reclamam que voltam e não encontram o espaço que tinham antes", relata.



Heloani falou também da pressão por metas abusivas. "Não é que não possa ter meta, mas quanto se coloca de uma maneira abusiva, praticamente inatingível, o gestor vai fazer o que puder pela meta e se esquece que o seu funcionário, que está lá para ajudar, é um ser humano."



Assédio e conflito - O especialista destacou que não se pode confundir assédio moral com conflito. "Os conflitos fazem parte de qualquer ambiente de trabalho. No assédio moral, não se tem interesse em resolver o conflito. A intenção é destruir pessoas, humilhar. Pode inclusive levar à morte."



Heloani vê a cláusula na CCT de combate ao assédio moral, conquistada pela categoria na Campanha Nacional 2010, como um grande avanço. "Estão de parabéns por esse acordo", disse. "A questão não é de vítima e algoz. É coletiva e tem de ser resolvida coletivamente. Ela (vítima de assédio) tem de procurar o Sindicato."



E reforça: "o trabalhador tem receio de ser visto como amigo da pessoa que está sendo assediada. É comum ter um assédio misto, que começa na alta hierarquia e o grupo em torno se alia ao agressor para que o gestor veja que este é um grupo que está com ele. Esse é uma atitude burra, porque ora ele assedia um, ora outro".



A presidenta Juvandia Moreira revelou que a conversa com os bancos para que o combate à prática se torne uma realidade já está em andamento. "Temos discutido a importância de levar o assunto a sério. Não adianta ser de fachada. E sinto que os bancos também estão preocupados com isso", disse.



Walcir Previtale lembrou ainda que, além de denunciar ao Sindicato, é importante, quando viável, documentar casos de assédio moral. "Um juiz pode vir a pedir isso em um eventual processo trabalhista", conclui.



Fonte: André Rossi - Seeb/SP

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