27 de Novembro de 2008 às 22:26
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Depois de pouco mais de dois meses tentando administrar os impactos negativos da crise financeira externa na economia brasileira, o governo mudou o foco de suas preocupações. Em vez da oferta de crédito, agora é o custo dos empréstimos o alvo das medidas em discussão.
Segundo levantamento do Banco Central, o custo médio de um empréstimo bancário chegou a 45% ao ano neste começo de mês, se considerada a média dos contratos firmados entre os dias 1º e 12 de novembro. Em outubro, essa taxa estava em 42,9% ao ano e, em setembro, em 40,4%.
A pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a equipe econômica começou a mapear medidas que podem ser adotadas nessa área, mas, segundo a Folha apurou, já se sabe que o problema é bem mais difícil de ser contornado do que o da falta de liquidez, que dominou as atenções até agora.
Para o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a escalada dos juros não deve ser interrompida enquanto as turbulências nos mercados globais não diminuírem.
A alta é mais pronunciada nos financiamentos a pessoas físicas. Nessa modalidade, a taxa média praticada pelos bancos, que estava em 54,8% ao ano em outubro, já chegou a 59,8% neste começo de mês, nível mais alto registrado pelas estatísticas do BC em três anos.
Para o governo, apesar de o volume de dinheiro em circulação não ter sido totalmente restabelecido e de o crédito ter diminuído o ritmo de crescimento, a situação irá se acomodar gradualmente. No entanto, se a oferta for restabelecida num patamar mais baixo, mas a demanda cair por causa do custo, isso causará problemas para o crescimento em 2009.
O ponto central para a equipe econômica é como fazer cair o valor cobrado nos empréstimos. Esse custo subiu nos últimos meses, reflexo não só do agravamento da crise financeira mas também da elevação da taxa básica de juros, a Selic.
"Spread" elevado – A equação passa pelo “spread” das transações bancárias: a diferença entre o custo que uma instituição tem para captar dinheiro e o valor cobrado no empréstimo ao cliente. Aí estão embutidos o lucro da operação, os impostos pagos, exigências feitas pelo governo, como recolhimento compulsório (parcela do depósitos que fica parada no Banco Central), o risco calculado para os clientes e os custos administrativos.
Em setembro, o “spread” médio estava em 26,4 pontos percentuais. Isso significa que, dos 40,4% ao ano cobrados nos empréstimos, 26,4 pontos percentuais ficavam com os bancos. Em outubro, o "spread" havia subido para 28,4 pontos percentuais e neste começo de mês está em 30,5 pontos.
“Esse movimento é reflexo do maior conservadorismo das instituições financeiras”, afirma Lopes.
Ou seja, com receio de que a crise afete a capacidade de pagamento de seus devedores, os bancos estariam se antecipando a eventuais perdas e aumentando os juros.
Os presidentes dos bancos federais, entre eles a Caixa Econômica e o Banco do Brasil, tentaram explicar ao presidente Lula, na semana passada, que a alta recente nesses "spreads" é fruto do maior risco com a crise financeira global e também das elevações dos juros promovidas pelo BC neste ano.
Não convenceram e saíram do encontro com a ordem de melhorarem sua eficiência administrativa para poderem, a partir da mesma taxa Selic e de um risco menor, pelo menos, não cobrar mais caro nas operações. Afinal, uma parte importante do “spread”, o recolhimento compulsório, foi reduzido significativamente nos últimos dois meses.
Lula está convencido de que os bancos federais têm obrigação de liderar o movimento para brecar a alta do custo final dos empréstimos. Por isso, ele cobrou mais eficiência administrativa das duas instituições. BB e Caixa estão reavaliando metas de cortes de gastos, o que inclui de pessoal a material de escritório e cafezinho.
Sheila D’Amorim e Ney Hayashi da Cruz, da Folha de São Paulo