27 de Novembro de 2008 às 22:32
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O Encontro Nacional de Formação Sindical da Contraf/CUT foi encerrado nesta quarta-feira, 26, com palestras acompanhadas de discussão sobre o sistema financeiro nacional, o desenvolvimento econômico e social e o mercado de trabalho no país. Participaram como palestrantes o secretário-geral da Contraf/CUT, Carlos Cordeiro, o economista Alexandre de Freitas Barbosa, professor da Unicamp e membro do Cebrap, e Messias Melo, diretor executivo da CUT Nacional.
O Encontro Nacional de Formação da Contraf/CUT fez uma homenagem a Celso Furtado, autor entre outras obras de Formação Econômica do Brasil e um dos mais importantes economistas e pensadores brasileiros. O encontro começou na terça-feira com o documentário O longo amanhecer - Cinebiografia de Celso Furtado e uma palestra da jornalista Rosa Freire D´Aguiar, viúva do economista e coordenadora do Centro Celso Furtado (www.centrocelsofurtado.org.br).
Carlos Cordeiro fez uma apresentação sobre a configuração do sistema financeiro nacional, a concentração que está ocorrendo no setor, o enxugamento dos postos de trabalho nas duas últimas décadas e a prática desmesurada de juros, spread e tarifas altos.
Para o dirigente da Contraf/CUT, isso em parte é resultado da ausência de participação da sociedade nos órgãos normativos e diretivos do sistema financeiro, principalmente no Conselho Monetário Nacional. “O movimento sindical bancário precisa se qualificar para fazer o debate e a disputa desse setor estratégico do Estado, responsável em grande parte pela elaboração de políticas que darão o rumo do desenvolvimento econômico e social”, cobrou Carlos Cordeiro.
Regulamentação do SFN – Essa ausência de participação resulta no domínio dos próprios bancos sobre o CMN e o Banco Central, garantindo os privilégios que o sistema financeiro goza no país, o que mais uma vez está demonstrado com o comportamento do setor na atual crise. “É uma excrescência o que está acontecendo. Os bancos estão embolsando o crédito que o governo está liberando para enfrentar a crise, e em vez de aumentar os empréstimos à economia estão elevando os juros e as tarifas, obrigando a sociedade a pagar pela crise enquanto aumenta o lucro deles”.
Carlos Cordeiro defendeu a necessidade de o movimento sindical e a sociedade exigirem do governo contrapartidas sociais para as ajudas que vêm concedendo a segmentos da economia, notadamente os bancos, com vistas à manutenção do crescimento econômico e geração de empregos.
“Esse sistema financeiro não interessa à sociedade brasileira. É preciso que tenhamos a capacidade de discutir e elaborar um novo projeto para o sistema financeiro, que esteja a serviço da sociedade e seja fornecedor de crédito para o desenvolvimento econômico e social. Precisamos pressionar o governo a fazer essa mudança”, defendeu Carlos Cordeiro, informando que a Contraf/CUT está retomando a discussão do projeto de regulamentação do sistema financeiro que os bancários elaboraram na década de 90 e apresentaram ao Congresso Nacional, que está engavetado até hoje.
A desigualdade persiste – O economista Alexandre de Freitas Barbosa, autor do livro A Formação do Mercado de Trabalho no Brasil enfatizou a necessidade de se forjar consensos políticos que tragam soluções econômicas para o país. “Vivemos uma política econômica que se mantém presa a curto prazo e a um mercado de trabalho pautado pela terceirização”, explica o economista.
O professor da Unicamp também apresentou um balanço histórico sobre o desenvolvimento econômico do Brasil, pincelando a importância que o sistema cafeeiro teve para o desenvolvimento nacional, como na construção das ferrovias, criação de bancos etc. Porém destacou que se tratava de um processo desigual, que transferia a mão de obra escrava ao nordeste e abria espaço para a entrada dos escravos imigrantes. “Com a chegada excessiva dos imigrantes, o preço da mão de obra se tornou estável, o que permitiu um crescimento econômico com o excedente que se havia no nordeste”, explica Alexandre. “Tamanho foi o crescimento que o País se transformou na maior economia industrializada dos países em desenvolvimento entre os anos de 1930 e 1980. O Brasil chegou a obter um crescimento de 7% ao ano”, complementa.
O economista lembrou Celso Furtado, que dizia ser a região nordeste o espelho aonde as distorções no Brasil se mostravam com maior nitidez. Para ele, este papel de luta pela redução da pobreza regional evidente nas análises de Furtado, atualmente foi fragmentada dentro de cada região. “A desigualdade está em todos os lugares, anteriormente se falava no problema da região nordeste, hoje ela está bem próxima, como aqui no Vale do Ribeira. O Estado tem papel fundamental para o desenvolvimento econômico e na relação de nexo que deve existir entre todas as partes envolvidas no processo”, sustenta Alexandre.
Falta um projeto nacional – Messias Melo, diretor executivo da CUT Nacional, priorizou a necessidade que todo movimento sindical tem em elaborar um projeto de desenvolvimento nacional sob o ponto de vista dos trabalhadores, a fim de que seja levado ao governo como um posicionamento que se opõe ao modelo vigente, que não favorece a população.
Messias apresentou as diretrizes da Jornada pelo Desenvolvimento com Distribuição de Renda e Valorização do Trabalho, elaborada pela Central Única dos Trabalhadores. E lembrou a necessidade em democratizar a comunicação social, a educação, para que seja possível pensar em um desenvolvimento que seja sustentável.
Contraf/CUT