20 de Janeiro de 2009 às 12:20

Estadão: banco público tem mais risco de calote

Bancos públicos se expõem mais ao risco de calote que os concorrentes privados. Dados do Banco Central (BC) mostram que 71,3% dos empréstimos para as pessoas físicas feitos pelas instituições controladas pelo governo têm risco que equivale a, pelo menos, atrasos de 15 dias nos pagamentos.
 
Enquanto isso, os bancos privados optam por concentrar operações nos bons pagadores e só 27,6% dos financiamentos têm o risco mencionado. A pressão do governo para o aumento da oferta de crédito em meio à crise e a ação em nichos de menor renda explica a maior exposição dos bancos públicos, dizem analistas.
 
No setor bancário, cada empréstimo é classificado com notas para determinar o risco de calote. Pelas regras do BC, a avaliação varia entre AA e H e leva em conta critérios como o grau de endividamento, limite de crédito, qualidade das garantias, valor do financiamento, renda e patrimônio do cliente. Isso, por exemplo, determina se um empréstimo recebe AA - a melhor nota - ou C na concessão do crédito.
 
Independentemente da avaliação, bancos são obrigados a incluir todos os empréstimos com atraso de 15 dias na nota B. A falta de pontualidade no pagamento superior a um mês passa a receber C e, quando o atraso no pagamento passa de mais de 90 dias, cai para E.
 
Dessa forma, o ideal é que instituições optem pelos empréstimos com as melhores notas, aqueles feitos por bons pagadores: clientes com boas condições de pagamento, histórico de crédito e garantias. Mas não é necessariamente isso que ocorre nos bancos públicos.
 
Em novembro, a exposição ao risco nas operações entre B e H concentrou quase três quartos dos empréstimos às pessoas físicas feitas pelas instituições controladas pelo governo. Portanto, só um quarto tinha nota AA e A.
 
Enquanto isso, a proporção nos bancos privados com capital nacional era exatamente a contrária: quase três quartos dos empréstimos tinham as duas melhores notas e apenas um quarto as piores avaliações.
 
Ramo imobiliário – Situação semelhante é vista no segmento imobiliário. Nos bancos públicos, 68,8% dos financiamentos estão no grupo com risco entre B a H. Nos privados nacionais, 72,2% dos empréstimos têm as melhores notas, ou seja AA e A.
 
“Esse quadro tem reflexos nos balanços. Normalmente, bancos públicos têm de fazer provisões maiores para o risco de inadimplência”, diz a analista do setor bancário do Banco Banif, Lia da Graça. Outro efeito, de acordo com ela, é observado no lucro. “Bancos públicos tendem a ter menos lucro que os privados”.
 
A especialista também diz que essa exposição prejudica as ações das instituições. “Na comparação com os grandes concorrentes, a ação do Banco do Brasil sempre teve um ‘desconto’. Essa diferença ocorre porque há o risco de o banco público ser usado como instrumento de política econômica”, informa.
 
“Se o governo afirmar que bancos têm de continuar emprestando, não há muita escolha para o BB ou a Caixa Econômica Federal”, diz Lia.
 
Papel social – O professor de finanças da Faculdade de Economia e Administração da USP Ribeirão Preto e diretor-presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa em Administração (Inepad), Alberto Borges Mathias, diz que outra explicação é o papel social das instituições públicas. “Esse caráter significa correr mais riscos. E, em muitos desses segmentos, os bancos privados não atuam”, diz.
 
O BB, por exemplo, é o líder isolado no crédito rural. Apesar da importância econômica do setor, bancos privados têm presença discreta no segmento, principalmente pelo risco de quebra de safra. Já a Caixa é líder no segmento imobiliário, onde atua em nichos de menor renda que são praticamente inexplorados pelos bancos privados.
 
Na opinião de Mathias, é provável que a exposição a riscos dos bancos públicos cresça nos próximos meses com a atuação mais forte dessas instituições no mercado de crédito desde o agravamento da crise.
 
Mas ele afirma que o uso de ferramentas de acompanhamento das operações pode impedir que isso se transforme em uma onda de calotes nas instituições públicas.
 

Fernando Nakagawa, de O Estado de São Paulo
 

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