9 de Dezembro de 2008 às 12:03

Estadão: País tem o maior spread bancário do mundo

O spread bancário no Brasil é o mais alto do mundo, o que provoca atritos entre o sistema financeiro e governos há anos. Spread é a diferença entre as taxas que os bancos pagam ao captar dinheiro no mercado e o juro que cobram nos empréstimos.
 
Essa nova onda de pressão de autoridades de Brasília sobre as instituições, como relatou o Estado em sua edição de domingo, tem como pano de fundo a redução dos depósitos compulsórios, dinheiro que os bancos devem deixar parado no Banco Central (BC), estimado atualmente em R$ 270 bilhões.
 
Para aliviar os efeitos da crise no País, o governo liberou, ao longo dos últimos dois meses, aproximadamente R$ 97 bilhões, segundo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban). Apesar disso, o spread bancário médio subiu de 26,4 pontos porcentuais em setembro para 28,4 pontos em outubro.
 
“Não se pode aumentar ainda mais o custo para as empresas brasileiras em um momento difícil como este”, queixa-se o diretor do Departamento de Competitividade e Tecnologia da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), José Ricardo Roriz Coelho. “O spread no Brasil é sete vezes maior que o de outros países. É impraticável”.
 
Anualmente, a Fiesp faz um ranking de competitividade, conhecido como IC. Um dos itens que o compõem é justamente o spread bancário. No estudo deste ano, a entidade usou dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) relativos a 2007. Os números mostram que o Brasil liderava o levantamento, com spread médio de 25,3 pontos porcentuais. Em um distante segundo lugar estava a Colômbia, com 7,4 pontos, seguida pela França, com 7 pontos.
 
Um estudo do próprio Banco Central revelou que o spread brasileiro é composto por vários itens: custo administrativo (13,5% do total), inadimplência (37,35%), compulsório (3,59%), tributos (8,09%), outros impostos (10,53%) e margem líquida dos bancos (26,93%). Em outras palavras, dos 28,4 pontos do spread em outubro, a margem (lucro) das instituições era de 7,65 pontos porcentuais.
 
O analista Luís Miguel Santacreu, da Austin Rating, avalia que o governo tem condições de pressionar os bancos a reduzir os spreads, mas acha difícil algum resultado prático em uma conjuntura complicada como a atual. “Se em um momento de euforia como o que estávamos vivendo o spread não caiu, imagine agora”, pondera.
 
O economista-chefe da Febraban, Rubens Sardenberg, rebate e diz que o spread recuou nos últimos anos. Ele cita o próprio estudo do Banco Central, segundo o qual o spread total caiu de 39,95 pontos em 2001 para 28,4 pontos no fim do ano passado. Sobre a alta em outubro, ele diz que “há flutuações de curto prazo, mas a questão deve ser olhada em uma perspectiva de longo prazo”. Para ele, a queda do spread depende de questões como crescimento econômico e estabilidade.
 
O professor Fábio Kanczuk, da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da Universidade de São Paulo (USP), observa que os tomadores de recursos no Brasil não pressionam para que as taxas sejam mais baixas. “O cidadão precisa aprender a barganhar. É isso que vai reduzir o spread”.
 
Seu colega Alberto Borges Matias, da USP de Ribeirão Preto, diz que a redução do spread só ocorrerá com o aumento da competitividade e dos volumes operados no sistema.
 

Leandro Modé e Paula Pacheco, de O Estado de São Paulo
 

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