29 de Junho de 2011 às 10:30

Estagnação salarial ameaça classe média nos países ricos

Quase três anos depois do início da crise econômica, um novo fantasma está assombrando as economias mais avançadas do mundo: a perspectiva de que a maioria de seus cidadãos enfrentarão anos de estagnação salarial.


Nos anos seguintes ao pós-guerra, havia nas economias desenvolvidas a crença de que cada geração poderia esperar ter um padrão de vida significativamente melhor que o de seus pais. Mas a perspectiva de crescimento da renda poucas vezes pareceu pior do que atualmente.


Para alguns grupos de renda média, a ideia de renda estagnada ou em queda não é nova.


Os operadores de empilhadeiras do Reino Unido podiam esperar ganhar 19.068 libras esterlinas em todo o ano de 2010, cerca de 5% menos que em 1978, em termos reais. A mediana dos ganhos reais de um trabalhador americano do sexo masculino não sobe desde 1975.


A média da renda real familiar japonesa, descontados os impostos, caiu na década encerrada por volta de 2005. E a da Alemanha recuou nos últimos dez anos.


Parte dessa pressão sobre as famílias de renda média foi mascarada - pelo menos temporariamente - pelo surto de crescimento do crédito, que permitiu com que as famílias gastassem mais do que ganhavam. Agora, três anos depois do fim da era do dinheiro barato, as classes médias do mundo inteiro estão sentido o aperto.


Esse não é, nem de longe, o cenário desejado pelos políticos, num momento em que estão sendo obrigados a cogitar aumentar os impostos e reduzir os gastos públicos, para domar as finanças públicas.


E essa consolidação é necessária antes que os países iniciem o processo, ainda mais difícil, de se ajustar financeiramente à crescente longevidade e ao envelhecimento da população.


Duas perguntas são trazidas à tona pelas tendências do salário e da renda das famílias. O que, exatamente, está acontecendo com a renda nas economias avançadas? E por quê?


Apenas recentemente as respostas começaram a ficar claras. A partir de 1975, a mediana do salário pago a um trabalhador americano do sexo masculino estagnou em termos reais, enquanto o Produto Interno Bruto (PIB) continuou a subir de forma acelerada.


De início, outros países resistiram a essa tendência, o que levou a preocupações, nos EUA, de que uma doença tipicamente americana estava afligindo a cultura e o mercado de trabalho do país.


O crescimento da renda nacional per capita precisa ir para algum lugar. Nos EUA, o dinheiro fluiu quase exclusivamente para os segmentos mais ricos no país. Os ganhos antes dos impostos das pessoas físicas americanas do 1% de maior renda respondiam por 8% da renda total em 1974, mas a participação disparou para 18% em 2008.


Mesmo aumentos proporcionalmente maiores na distribuição de renda foram para os 1% mais ricos entre as pessoas com renda dentro do 1% mais elevado.


A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) detectou crescimento da desigualdade de renda entre meados da década de 1980 e o final da década de 2000 em 17 de 22 economias avançadas.


"Há sinais de que os níveis [de desigualdade] podem estar convergindo para uma média conjunta e mais elevada", disse a OCDE em recente relatório, e "de que países como a Dinamarca, a Alemanha e a Suécia, que tradicionalmente têm baixo grau de desigualdade, não estão mais sendo poupados da tendência da desigualdade crescente".


A expansão da má distribuição de renda em quase todos os países está sendo puxada pelas tendências do mercado de trabalho.


Embora a maioria dos países-membros da OCDE tenha tentado combater a alta da desigualdade salarial por meio do aumento dos benefícios governamentais ao trabalhador e pela redução dos impostos descontados em folha para os que ganham menos, o crescimento da desigualdade salarial ultrapassou a disposição de adotar sistemas cada vez mais progressivos de impostos e benefícios.


O que vem exacerbando a crescente má distribuição de renda é a queda da demanda para o preenchimento de cargos com níveis médios de capacitação. Nas economias avançadas, o mercado de trabalho está se polarizando entre "empregos fabulosos e empregos ruins", diz Alan Manning, professor da Faculdade de Economia de Londres.


Entre 1993 e 2006, a parcela de cargos com salário médio caiu, enquanto a de vencimentos altos e baixos aumentou. Isso foi detectado em quase todas as economias avançadas, independentemente de suas características econômicas e de sua cultura política.


A semelhança das tendências sugere a participação de forças superiores ao sistema político ou às características do mercado de trabalho de cada país. Embora haja teorias concorrentes sobre o que está causando as tendências de má distribuição de renda e na demanda por mão de obra, algumas explicações se destacam.


No topo da pirâmide de distribuição de renda, a revolução das comunicações fez com que muitas pessoas expandissem suas vendas e receita de um público de âmbito municipal para um de nível mundial. Outras encontraram maneiras de fazer fortuna ao apostar com o dinheiro de outras pessoas.


Para muitas pessoas com educação superior, os computadores e a internet complementam a flexibilidade de seu potencial. Escritores conseguem distribuir conteúdo mundialmente, auditores e arquitetos conseguem atender clientes longe de seus escritórios e os professores universitários têm um público mundial, em vez de dar aulas apenas para o corpo discente de sua instituição.


A demanda por pessoal altamente qualificado superou o crescimento do número de formados nas universidades por mais de uma geração, levando à expansão da renda.


No extremo inferior da distribuição da renda, a tecnologia ainda é irrelevante. Mas isso comprometeu gravemente a demanda por tarefas rotineiras, mas qualificadas - no passado a espinha dorsal do nível de emprego nas economias avançadas -, de operários de fábrica a bancários.


Não é nem um pouco divertido ser operador de empilhadeira em um mundo de armazéns de distribuição automatizados. Isso se revela nos cargos e salários médios. E, como as classes médias são decisivas nas eleições, isso terá peso na cabeça dos políticos.


Fonte: Chris Giles - Financial Times

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