4 de Dezembro de 2007 às 11:29
As receitas bancárias oriundas de prestação de serviços chegaram a 143% dos gastos com pessoal, e deverão continuar em trajetória ascendente. Reportagem do jornal Valor Econômico aponta que os ganhos já superam o que os bancos conseguiam sobre a inflação nos anos 80 e 90 – quando investiam recursos dos depósitos à vista no mercado de overnight e conseguiam lucros de 40% ao mês.
A expectativa é que nem medidas tomadas pelo governo poderão evitar os ganhos. “Os bancos podem compensar eventuais perdas com aumento do número de clientes e com crédito”, avaliou Miguel de Oliveira, diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade, ao lembrar que o governo quer obrigar os bancos a cumprirem prazos para reajuste de tarifas, uma das principais medidas que o Conselho Monetário Nacional deve tomar na regulação do setor.
A quantidade de tarifas bancárias também deve ser reduzida pela metade: atualmente, excluídas as operações cambiais, são aproximadamente 50 taxas. Levantamento da Austin Ratings mostra que a participação da prestação de serviços (que inclui as tarifas) nas receitas totais subiu de 7,6%, em dezembro de 1994, para 21,2%, em setembro deste ano, números que chamaram a atenção da sociedade para os lucros astronômicos dos bancos.
A Federação Brasileira dos Bancos ainda sustenta que o percentual segue mais baixo do que o praticado no resto do mundo. “Os serviços dos bancos brasileiros certamente não são os mais caros”, explica o diretor de relações institucionais da Febraban, Mário Sérgio Vasconcelos. “Em alguns países, a relação entre serviços e receita total atinge 40%, 50%” completa. A entidade atribuiu os ganhos à estabilização econômica, que fez essas receitas ganharam importância.
“Não importam as alegações. O fato é que vemos as tarifas subirem absurdamente, por ‘manobras’ feitas pelos bancos para conseguir arrecadar mais. Na sedução do cliente para adquirir determinado serviço, acabam embutidas outras tarifas. E os bancos vão lucrar mais, à medida que os postos de trabalho são reduzidos, seja pela demissão incondicional ou pela terceirização”, afirmou o presidente do Sindicato dos Bancários de Campo Grande/MS e Região, José Aparecido Clementino Pereira.
Em entrevista à TV Morena, o presidente do Seeb-CG/MS lembrou que muitos serviços foram repaginados, para que resultassem em cobranças diferentes. “A emissão de cheques, por exemplo, agora é feita em folha, ao invés de talão. Isso gera um custo diferenciado para o banco e colabora com o aumento dos lucros. Fora a contratação de seguro ou outras ‘vantagens’ oferecidas aos clientes, que acabam tendo o seu custo”.
Escalada – Na época de inflação alta, os bancos não tinham tal preocupação por conta de ganhos com investimentos. No overnight, como apontou o Valor, eles chegavam a render até 45% ao mês”. Sem esses recursos, os bancos precisaram mudar suas estruturas. A receita com prestação de serviço nos maiores bancos brasileiro, em setembro, foi 143% superior às despesas com pessoal. Esse é um dos indicadores utilizados pelas instituições para medir a eficiência e significa que apenas com esses ganhos, as instituições pagam os funcionários com sobra.
E o avanço está mais rápido do que a inflação. Levantamento feito por Miguel de Oliveira mostra que entre agosto e novembro deste ano, período em que a questão voltou a chamar atenção, 14 tarifas sofreram redução, seis tiveram o preço médio mantido e a grande maioria, 41, sofreram elevação, sendo 32 acima da taxa de inflação no período analisado.
O impacto é maior para a pessoa física. Nas 21 tarifas mais utilizadas pelos correntistas, em média, apenas duas delas passaram por redução, enquanto três se mantiveram no mesmo patamar e as 16 restantes sofreram elevação acima da inflação. A Febraban alega que tem feito esforços no sentido de ampliar a transparência do processo e iniciou um processo de auto-regulação, que inclui as tarifas. Segundo Vasconcelos, o crescimento das receitas com serviços se deu pelo aumento da base de clientes e da expansão do crédito.
O volume de contas correntes, por exemplo, segundo dados da instituição, aumentou 44% desde 2002, atingindo 103 milhões. Nos últimos dois anos, as transações bancárias cresceram 22%, atingindo a quantidade de 37 bilhões, no fim de 2006. Ele diz ainda que o impacto das tarifas no bolso das pessoas não é tão grande. O total das receitas com serviços prestados pelos bancos por cliente - que inclui as tarifas - diminuiu em termos reais (descontando-se a inflação) de R$ 202, em 2001, para R$ 184, em 2006.
Secretaria de Imprensa e Comunicação, com Valor Econômico
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