11 de Setembro de 2025 às 09:35
Movimento Sindical
A categoria bancária comemora nesta quinta-feira 11 de setembro o 40º aniversário da deflagração da grande greve nacional de 1985. Ela entrou para a história porque foi a primeira depois do golpe militar que esmagou a democracia e o movimento sindical por 21 anos. Porque por três dias paralisou totalmente o sistema financeiro de norte a sul do país, tornando-se a maior paralisação nacional dos bancários até hoje. Quebrou a intransigência dos banqueiros e do governo e conquistou importante vitória econômica e social. Consolidou a unidade nacional da categoria, que levaria mais tarde à assinatura da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT), a mais avançada de toda a classe trabalhadora brasileira.
A greve dos bancários de 1985 também fortaleceu a luta democrática ao final da ditadura militar, que desembocou na Assembleia Nacional Constituinte três anos depois. E ainda foi o motor propulsor de outra greve histórica no mesmo ano, no dia 30 de outubro: a paralisação nacional dos empregados da Caixa, que conquistou a jornada de trabalho de 6 horas e o direito de pertencer à categoria bancária e de poder se sindicalizar.
Os bancários sempre tiveram presença marcante nas lutas sindicais e sociais do Brasil há mais de um século, tanto em defesa da categoria quanto da classe trabalhadora, além das mobilizações da sociedade brasileira por democracia e por um país mais justo e fraterno. As lutas dos bancários começaram nos anos 1920, pelo direito de se organizar. Primeiro foram criadas associações e só na década seguinte surgiram os primeiros sindicatos.
Todos os direitos que eles possuem hoje, assegurados na CCT, são resultado de muitas greves e mobilizações desde então. A jornada de 6 horas, por exemplo, foi conquistada em 1933, após a decretação de uma paralisação. E no ano seguinte, a primeira greve geral da categoria conquista estabilidade a partir dos dois anos de trabalho e criação do Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Bancários (IAPB), extintos em 1967 pela ditadura militar.
Em 1951, após greve de 69 dias é instituído o Dia do Bancário, comemorado em 28 de agosto. Em 1957 conquistaram o direito de remuneração pelas horas extras e a aposentadoria por tempo de serviço. No ano seguinte, criaram a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Crédito (Contec), que passa a dirigir as lutas nacionais da categoria. Em 1961, a “Greve da Dignidade” de nove dias conquista a unificação nacional da data-base em 1º de setembro, o salário profissional, a comissão de função e o anuênio. No ano seguinte, conquistaram o fim do trabalho aos sábados e, junto com outras categorias, conquistam o 13º salário.
O golpe civil-militar de 1964 interrompe a ascensão das lutas dos trabalhadores. Intervém nos sindicatos, afasta, persegue, prende e mata dirigentes sindicais. E acaba com muitas dessas conquistas da categoria bancária e da classe trabalhadora. Os sindicatos e a Contec continuam existindo, mas controlados pelo Ministério do Trabalho e com dirigentes escolhidos ou aprovados pelos militares e pelos patrões. A ditadura dura 21 anos.
Movimentos de resistência e oposição começam a surgir na clandestinidade, principalmente a partir dos anos 1970, retomando os sindicatos em várias categorias a partir do final de década. É o renascimento do movimento sindical, que passou a ser conhecido como “novo sindicalismo”. Ressurgem as greves, desafiando a ditadura e a repressão policial, diante do arrocho salarial. Primeiro com os metalúrgicos do ABC, depois também com bancários e outras categorias.
Cresce a pressão popular pelo fim da ditadura militar, que conquista em 1979 uma anistia aos presos políticos e exilados. Com a disparada da inflação no começo dos anos 1980 os trabalhadores ampliam as reivindicações por reajustes salariais e outros direitos. Em 1981, é realizada na Praia Grande, em São Paulo, a I Conferência das Classes Trabalhadoras (Conclat), movimento que, a despeito de divergências internas, desemboca em agosto de 1983 com a criação da CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Com o “novo sindicalismo” já instalado na direção de importantes sindicatos de bancários (primeiro em São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre), as oposições sindicais se alastram pelo país. Em 1982 os bancários reconquistam a reunificação da data-base da categoria em 1º de setembro. Em 1983 uma parte da categoria participou da greve geral contra os pacotes econômicos do regime militar.
No ano seguinte, nasce o movimento pelas Diretas Já!, exigindo eleição direta para presidente da República, que varre o país com algumas das maiores manifestações de massa da história do Brasil. A proposta das Diretas Já! é derrotada no Congresso Nacional, mas o Colégio Eleitoral que durante a ditadura “escolhia” indiretamente os presidentes elegeu em janeiro de 1985 o candidato lançado pela oposição, Tancredo Neves, derrotando o candidato dos militares, Paulo Maluf. Nascia a “Nova República” pactuada pelos militares e pela burguesia, pondo fim oficialmente à ditadura. (Tancredo adoece na véspera da posse e é substituído pelo vice José Sarney, ex-presidente da Arena, o partido da ditadura).
Com o fracasso da política econômica do regime militar, 1985 começou com uma explosão inflacionária. Além da luta pela recuperação do poder de compra dos salários, os bancários enfrentavam outro problema. Apesar da unificação da data-base em 1º de setembro, havia uma grande fragmentação e descentralização dos acordos coletivos da categoria.
Cada sindicato ou federação fechava seus próprios acordos com os bancos. As entidades mais frágeis ou pelegas assinavam acordos rebaixados com os banqueiros, o que passava a ser parâmetro para as decisões da Justiça do Trabalho, que todo ano era acionada pelos bancos para decidir as disputas – o que era permitido pela legislação quando não havia acordo entre patrões e empregados.
Era imperativo, portanto, buscar a unificação nacional da negociação com a Fenaban. Esse passou a ser o centro da estratégia dos bancários do “novo sindicalismo” a partir de 1983, com a criação de uma Comissão de Negociação Nacional.
Em março de 1985 os bancários apresentaram uma pauta de reivindicações aos bancos, que incluía a trimestralidade (reajuste salarial a cada três meses), aumento real e aumento do piso salarial.
Diante da intransigência da Fenaban, os bancários marcaram paralisação de 24 horas para 24 de maio. Os banqueiros contrapropuseram 25% de reajuste a partir de 1º de julho. Os bancários transformaram a paralisação em Dia Nacional de Luta e começaram a planejar a campanha salarial de setembro, ampliando as articulações em busca da unificação da mobilização em todo o país.
O IX Encontro Nacional dos Bancários, realizado no Rio de Janeiro entre 7 e 9 de junho com participação de 1.600 bancários de todo o país, definiu o calendário da campanha e a pauta de reivindicações. As principais eram: incorporação dos 25% conquistados em maio, reajuste trimestral, estabilidade no emprego, elevação do salário de ingresso, reposição das perdas, gratificação semestral, comissão sindical por banco, fim do trabalho gratuito e respeito à jornada de 6 horas.
Em reunião paralela ao Encontro Nacional, representantes dos sindicatos do “novo sindicalismo” e das oposições sindicais que enfrentavam os pelegos e cresciam em todo o país criam o Departamento Nacional dos Bancários da CUT (DNB/CUT), que mais tarde se transformaria em Confederação Nacional (CNB-CUT) e depois na Contraf-CUT. Foi um passo decisivo para impedir que os dirigentes pelegos, que ainda eram maioria na Comissão de Negociação Nacional, assumissem o controle da direção e da campanha salarial.
O Encontro do Rio também aprovou um calendário de mobilizações, que incluía um Dia Nacional de Luta em 28 de agosto, Dia do Bancário, e um novo Encontro Nacional aberto à categoria no dia 31 em Campinas, interior de São Paulo. Os bancários apontavam para a greve se as negociações não evoluíssem.
Mas a Fenaban repetia sua costumeira intransigência e arrogância, amparada na certeza da desmobilização dos bancários das últimas décadas. Após quatro rodadas de negociação, os banqueiros não avançaram em nenhuma das reivindicações centrais da campanha.
No Dia Nacional de Luta, os bancários deram a primeira grande demonstração de força. Dezenas de milhares saíram às ruas em manifestações e passeatas em todo o país para exigir que os banqueiros atendessem às reivindicações.
Três dias depois, em 31 de agosto, mais de 10 mil bancários vindos de todos os cantos do país compareceram ao Encontro Nacional em Campinas (foto), que lotou completamente o ginásio de esportes do Guarani FC. Em clima de euforia, aprovaram a deflagração da greve nacional por tempo indeterminado a partir de 11 de setembro, se os bancos não cedessem. E depois saíram em passeata pelas ruas da cidade.
Os sindicatos intensificaram a mobilização, puxados pelos funcionários dos bancos públicos, principalmente do Banco do Brasil, que já haviam feito uma greve de 24 horas no ano anterior e estavam organizados em todo o território nacional. A organização se consolidava em reuniões por bancos e por regiões. Assembleias em quase todas as bases criavam “Estado de Mobilização Geral” e “comitês de esclarecimento”.
Uma atenção especial foi dedicada à comunicação com os clientes e com a população, visando ganhar seu apoio no embate com os banqueiros. Em todas as cidades do país onde havia agências bancárias cartazes advertiam: “Se não sacou, é bom sacar. Os bancários vão parar”, orientando os clientes a esvaziarem os cofres dos bancos.
Os banqueiros mantiveram a intransigência e as assembleias realizadas no dia 10 à noite em todos os mais de 130 sindicatos de bancários do Brasil inteiro deflagraram a greve partir da meia-noite.
O dia 11 de setembro de 1985 amanheceu com o sistema financeiro nacional totalmente paralisado de Norte a Sul do país, inclusive no Centro-Oeste, na maior greve já vista em toda a história do Brasil.
No terceiro dia da greve, em audiência de conciliação o TRT de São Paulo, onde fica a sede da Fenaban, o tribunal propôs reajuste salarial de 90,78%. Assembleias realizadas em todo o Brasil no mesmo dia 13 aprovaram a proposta e encerraram a paralisação.
Mas uma traição da Contec, a confederação pelega que pela legislação representava oficialmente a categoria, rebaixou depois esse índice. Ela assinou às escondidas, de madrugada, um acordo com o Banco do Brasil com reajuste de 89,55%. Já desmobilizada e de volta ao trabalho, a categoria continuou negociando com a Fenaban, que em 21 de setembro propôs acordo com os 89,55% fechados com o BB, além de antecipação de 25% em janeiro e fevereiro e uma série de avanços no piso, no auxílio-alimentação, no anuênio, na hora extra, no auxílio-transporte, no comissionamento, na gratificação de compensação e no auxílio-creche.
Assembleias em todo o país acabaram aceitando a proposta, que representou um grande avanço econômico e social. Mas o mais importante foi o resultado político da greve, que consolidou a unidade nacional da categoria, imprescindível para as lutas e conquistas futuras.
A primeira delas já ocorreu no dia 30 de outubro de 1985, quando os empregados da Caixa fizeram uma greve nacional de 24 horas e conquistaram a jornada de 6 horas e o direito de ter sindicato. Mas essa história será contada com mais detalhes nos próximos dias.
Por: Fetec
Link: https://sindicario.com.br/noticias-gerais/ha-40-anos-bancarios-fizeram-a-maior-greve-da-historia-e-consolidaram-a-unidade-nacional/