6 de Janeiro de 2010 às 09:32

Internacionalização de bancos brasileiros precisa beneficiar trabalhadores

A onda de negociações do Banco do Brasil e do Itaú Unibanco para adquirir agências e participação em bancos na América Latina, nos Estados Unidos e na Europa é positiva para o crescimento dessas instituições e fortalecerá a economia brasileira no mundo. Mas esse poderio dos bancos também precisa ser direcionado para baratear o crédito e beneficiar os seus funcionários no Brasil. O alerta é do presidente da Contraf-CUT, Carlos Cordeiro, que acompanha as notícias envolvendo a ampliação das fronteiras de atuação dos bancos brasileiros, de olho na geração de empregos, na melhoria do crédito e na valorização dos trabalhadores.


Nesta semana, o jornal Valor Econômico divulgou que "o BB negocia com o britânico Royal Bank of Scotland (RBS) a compra de 20 agências do Citizens Bank na costa leste dos Estados Unidos". A notícia não foi comentada pelo banco, mas, segundo o veículo, "há várias negociações em andamento com instituições financeiras americanas, porque a estratégia de internacionalização do banco tem como objetivo estar onde estão brasileiros, latinos, empresas brasileiras e fluxo comercial forte".


A Folha de S.Paulo, por sua vez, noticiou que o Itaú Unibanco está em negociações para adquirir participação nos bancos Royal Bank of Scotland e Lloyds Banking Group, conforme informação do jornal britânico "Sunday Times" que citou como fonte o ex-ministro da Fazenda, Pedro Malan, que hoje participa do conselho consultivo internacional do banco brasileiro. A assessoria do Itaú, no entanto, disse que "não procede" a matéria publicada pelo jornal.


"BB e Itaú Unibanco mostram que possuem apetite e fartos recursos para fazer grandes negócios no exterior. Entretanto, eles ainda não colocaram em prática a responsabilidade social que aparece no marketing. O custo do crédito permanece elevado e inacessível, na medida em que não ouvem o clamor da sociedade e seguem cobrando altas taxas de juros e tarifas extorsivas de seus clientes", observa o presidente da Contraf-CUT.


"Os bancos também não fazem a lição de casa, uma vez que os funcionários sofrem com assédio moral e metas abusivas, carência de pessoal em muitas agências e falta de valorização salarial. Se existe tanto dinheiro sobrando para fazer novas aquisições, não se justifica que os trabalhadores não sejam devidamente remunerados e tenham melhores condições de saúde, segurança, trabalho e aposentadoria", aponta Carlos Cordeiro.


"Além disso, esperamos que o BB e o Itaú Unibanco respeitem e valorizem os trabalhadores dos outros países, evitando a prática diferenciada de bancos como o Santander e o HSBC. Nós defendemos a globalização dos direitos. Nada justifica que os bancários sejam tratados de forma diferenciada, como no pagamento de salários e participação nos lucros. Exigimos valorização e igualdade de direitos e oportunidades para todos os trabalhadores", conclui o dirigente sindical.


Banco do Brasil


Segundo o Valor, "o BB negocia com instituições americanas, argentinas, chilenas, paraguaias, uruguaias, colombianas e peruanas. Os nomes dessas instituições, com exceção do banco argentino Patagônia, segundo o BB, não podem ser revelados".


Em junho de 2009, o BB obteve das autoridades americanas licença para abrir sua empresa de remessas de divisas, a BB Money Transfers. Mas a autorização para atuar como banco de varejo no mercado financeiro americano está demorando e, por esse motivo, há a alternativa de, principalmente, comprar bancos regionais com "boa estrutura e preço adequado" nas áreas onde há comunidades de brasileiros. Há aproximadamente 1,4 milhão de brasileiros vivendo nos Estados Unidos.


Em 17 de dezembro, o Valor publicou reportagem revelando que o BB negocia a compra de um banco estrangeiro para entrar no mercado de varejo dos Estados Unidos. O plano seria adquirir apenas a infraestrutura física do banco, que tem 14 agências no mercado americano em locais com grande concentração de brasileiros e sofreu fortes perdas com crédito imobiliário durante a crise financeira internacional. O presidente do BB, Aldemir Bendine, afirmou, na ocasião, que não há interesse nos ativos desses bancos com os quais está negociando. Seria comprada apenas a infraestrutura dessas instituições.


Itaú Unibanco


De acordo com a Folha, Malan informou que o banco analisa a aquisição de uma parcela das ações do próprio governo britânico no RBS e Lloyds, pois, passado o pior momento da crise, tenta agora recuperar parte do dinheiro gasto na capitalização dos bancos. Para a assessoria do Itaú, ao fazer as declarações ao jornal, Malan não se referia particularmente aos dois bancos britânicos.


Segundo o jornal, Malan afirmou que o Itaú estuda também a compra de participações em instituições financeiras de outros países, incluindo os EUA. O ex-ministro teria dito que os planos de investimento no exterior serão reavaliados ao longo de 2010, ano ainda de incertezas na economia global e de eleição presidencial no Brasil.


O Itaú Unibanco é a instituição financeira brasileira com maior presença no exterior. Abriu a primeira agência em Nova York ainda em 1980. Em 1998, comprou o argentino Banco Del Buen Ayre, passando a atuar no varejo do país vizinho.


Com a compra das operações do antigo BankBoston na América Latina em 2006, o Itaú passou a ter presença também no varejo bancário do Uruguai e do Chile. Pelo negócio, o Bank of America, então dono do BankBoston, passou a ter assento no conselho e participação minoritária no Itaú, que hoje soma 5,36%.


À época da fusão com o Unibanco, em novembro de 2008, o presidente do banco, Roberto Setubal, disse que o próximo passo da nova instituição era ampliar sua presença internacional. No final de 2009, Setubal declarou que a meta continuava de pé, mas que o banco concentrava esforços na fusão.

Fonte: Contraf-CUT com Valor Econômico e Folha de S.Paulo

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