17 de Setembro de 2008 às 12:28
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Algumas semanas atrás, eram muitos os analistas que apostavam que o pior da crise no sistema bancário americano havia ficado para trás.
Ontem (segunda-feira), no entanto, predominava no mercado financeiro dos Estados Unidos a opinião de que ainda há outras instituições por quebrar -a única divergência dizia respeito ao tamanho e à importância delas.
Nouriel Roubini, professor da Universidade de Nova York e primeiro a prever essas turbulências, acha que não restará nenhuma corretora ou administradora de recursos independentes. “Seu modelo de negócio, que pede elevada alavancagem [endividamento para investimento], é insustentável se essas empresas não estiverem associadas a grandes bancos”, comentou o economista, que é conhecido pelo pessimismo, em entrevista na televisão. Na sua avaliação, o Goldman Sachs e o Morgan Stanley devem começar imediatamente a buscar parceiros se quiserem evitar o destino do Lehman Brothers.
Opinião oposta tem Benton Gup, professor da Universidade do Alabama e autor do livro “Too Big To Fail: Policies and Practices in Government Bailouts” (em tradução livre, “Grandes Demais para Falir: Políticas e Práticas em Salvamentos do Governo”). “Creio que ainda vamos ver bancos indo à bancarrota. Mas pequenos, não gigantes”, afirma.
Para os especialistas, o fato de o governo ter decidido não ajudar a vender o Lehman Brothers se explica principalmente pelo pequeno perigo sistêmico que a sua falência significaria. “O critério é o impacto. As autoridades perceberam que o Lehman Brothers não significava uma ameaça”, explica Gup. “Da mesma maneira que, na história, houve outros resgates, também existiram situações em que o governo federal preferiu não interferir, como os casos Enron e WorldCom. Elas quebraram por corrupção, e ninguém ficou sem telefone ou energia elétrica. O mercado financeiro está bastante nervoso neste momento, porém não parou de funcionar”. Outra diferença é que o banco estava em situação pior do que o Merril Lynch em termos de prejuízos com os títulos lastreados em hipotecas.
Ao deixar bem claro quais são as condições para um salvamento, a administração George W. Bush espera, ainda, minimizar o “risco moral” -quando ajudou o Bear Sterns, foi criticado por dar a entender que estenderia a mão a todos os bancos que se encontrassem em dificuldades. Agora, a mensagem é outra.
O forte mau humor observado ontem nas Bolsas de Valores é, em parte, resposta a esse pragmatismo e essa ansiedade em saber quais são as próximas instituições que vão gritar por socorro. De acordo com os registros da FDIC (Federal Deposit Insurance Corporation, Corporação Federal de Seguro de Depósito), órgão do governo responsável por garantir as operações do setor, 28 bancos pediram falência nos Estados Unidos neste ano, sem contar o Lehman Brothers.
“Mais uma centena pode ir à lona nos próximos meses. Assim, os mercados ficarão voláteis por algum tempo. Vai demorar um pouco para a situação se normalizar”, frisa Gup.
Pior e melhor – Os prejuízos com a atual crise já fazem dela a pior da história. As perdas poderiam ser ainda maiores, entretanto, não fossem as atuações do Federal Reserve (o banco central norte-americano) e do Tesouro.
“Em 1929, ocorreu um verdadeiro derretimento do mercado acionário, o que não está acontecendo agora. Na época, não existia uma política monetária, uma política fiscal como temos hoje. Estamos mais seguros”, compara Allen Sinai, presidente da consultoria Decision Economics.
Para essa sensação, que tem evitado uma corrida de clientes às instituições financeiras, contribui a garantia da FDIC: no caso de quebra de um banco, seus correntistas podem receber de volta os depósitos até o valor máximo de US$ 100 mil, ou US$ 250 mil no caso dos planos de previdência privada.
Mas as conseqüências para a economia real continuam sendo objeto de debate. “Provavelmente não presenciaremos uma recessão global nos moldes da Grande Depressão, embora os gastos dos consumidores estejam caindo e devam continuar baixos por um bom tempo. É difícil fazer qualquer tipo de previsão”, diz Sinai.
Denyse Godoy, da Folha de São Paulo