9 de Junho de 2011 às 12:10

Recuo do BNDES abre espaço para bancos avançarem no capital de giro

O recuo do BNDES tem permitido a expansão do estoque de crédito com recursos livres (4,1% no ano até abril), em ritmo acima do direcionado (1,9%) nos portfólios de pessoa jurídica em geral, incluindo empresas de todos os portes. É essa lacuna que os bancos comerciais têm ocupado, diz o diretor de produtos de pessoa jurídica do HSBC, Rodrigo Caramez.


"Na crise, o BNDES teve um papel anticíclico determinante, colocando recursos para mover a economia e agora a missão do banco de fomento é focar os investimentos estratégicos, deixando as demandas de capital de giro para os bancos."


Pelos dados do Banco Central (BC), de março para abril houve um incremento de 8,5% na média diária de concessões de capital de giro, a R$ 1,23 bilhão. Na média, os juros cobrados subiram só 0,5 ponto percentual neste ano, mas há casos de custos em queda.


Especificamente para micro, pequenas e médias empresas, o Bradesco, que trabalhava com prazos entre 12 e 24 meses até o ano passado, criou duas novas linhas, uma com prazo de 36 meses para a gestão do fluxo de caixa, e outra com até 48 meses para financiar a aquisição de equipamentos usados, possibilidade não coberta pelos repasses do BNDES. As prestações mensais são limitadas a R$ 60 mil e os juros saem a 2,70% ao mês, em comparação ao piso de 3,5% cobrados anteriormente.


O orçamento previa a destinação de R$ 200 milhões nas novas opções, mas 80% disso já foi tomado. Segundo o diretor de empréstimos e financiamentos, Octavio de Lazzari Junior, há disposição do banco de aumentar esse valor se necessário.


"O micro, pequeno ou médio empresário é muito carente de linhas longas. O ambiente de menor risco dá segurança para se aumentar os prazos", diz. Na rede, o atendimento também ganhou reforço, com a promoção de 508 funcionários a gerentes de negócios do segmento, equipe que se juntou aos 8 mil profissionais treinados nos últimos anos, numa parceria com o Sebrae. "Os resultados desses investimentos começam a aparecer." No primeiro trimestre, enquanto a carteira de pessoa física cresceu 2%, a de micro, pequenas e médias empresas teve incremento de 4,4%, indo a R$ 87,7 bilhões.


O HSBC estendeu em abril o prazo da sua linha de capital de giro, que oscilava entre 7 e 12 meses, para 18 e 24 meses e passou a premiar as empresas boas pagadoras com a isenção de uma ou duas prestações no fim do contrato.


No Santander, os prazos chegam a 36 meses, com bonificação de três parcelas para os clientes adimplentes no vencimento da operação. Na prática, isso se traduz em custos menores para o tomador. Conforme exemplifica a superintendente de produtos do banco espanhol, Cristiane Nogueira de Andrade, um cliente que tenha contratado uma linha a 2,80% ao mês, por 36 meses, no final pagaria uma taxa líquida de 2,48% por conta da bonificação.


"O que se percebe é que o alongamento de prazos é uma tendência no mercado em geral, o setor bancário aprendeu a lidar com os micro, pequenos e médios empresários e por isso é importante ter uma oferta completa."


No cardápio de linhas destinadas às empresas com faturamento de até R$ 30 milhões, o Santander ainda oferece cinco dias sem juros no cheque especial e alavancagem de até 10 vezes o faturamento na linha de giro garantida por recebíveis de cartões.


Nas agências, o Banco do Brasil já tinha a linha de giro de 24 meses disponível, mas neste ano reforçou a divulgação e as empresas responderam positivamente à oferta. "As micro, pequenas e médias empresas aprenderam a gerir melhor as finanças. E com a carteira mais estável do ponto de vista da inadimplência, o crescimento das operações também é mais consistente", diz o diretor de crédito, Walter Malieni.


Na Caixa, os prazos foram mantidos, entre 12 e 24 meses, mas é possível negociar no balcão da agência opções mais longas, segundo o superintendente nacional de micro e pequenas empresas, Sergio Netto Amandio. De abril para cá, ele conta que o custo das operações até caiu, de 1,89% para 1,70% ao mês.


"A Caixa tem uma política antiga de trabalhar com as taxas mais baixas do mercado, a oscilação dos preços na ponta decorre das variações observadas na oferta." No primeiro quadrimestre, as operações tiveram incremento de 7% e a carteira soma cerca de R$ 7 bilhões. A previsão é fechar o ano com expansão de 25%.

Fonte: Adriana Cotias - Valor Econômico

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