14 de Julho de 2009 às 09:29
A crise que atingiu os bancos pequenos e médios em 2008 já está superada, mas, segundo avaliações colhidas no Banco Central, ainda não foi encontrado um modelo de negócio definitivo que elimine as fragilidades do sistema. O problema central continua presente: o descasamento de prazos entre captações e aplicações, que deixa os bancos vulneráveis a corridas de saques.
Uma fonte diz que, em tese, nenhuma instituição financeira, mesmo as maiores e mais sólidas, está imune a corridas de depositantes. Mas bancos pequenos e médios estão especialmente mais vulneráveis, pela sua estrutura de captação e de aplicação.
Em geral, os bancos pequenos e médios captam depósitos de grandes investidores, como empresas, fundos de investimentos e fundos de pensão. Esse tipo de investidor costuma se mover mais rapidamente nas crises, sacando os recursos antes que os pequenos depositantes, que costumam confiar seus recursos aos bancos de varejo. Os prazos das captações, em geral, são menores do que as operações de crédito feitas com esses recursos, como empréstimos consignados e financiamentos de veículos.
Segundo o relatório de estabilidade financeira do BC, os depósitos captados por bancos pequenos e médios diminuíram 18,8% no segundo semestre de 2008, em virtude da crise financeira. Os saques provocaram uma crise de liquidez, ou seja, bancos pequenos e médios ficaram com pouco dinheiro em caixa para saldar os seus compromissos.
Na visão do BC, essa crise é um problema resolvido, depois que, em fins de 2008, foram adotadas medidas como a liberação de depósitos compulsórios e de incentivos para o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) e para os grandes bancos comprarem carteiras de crédito de bancos menores. O clima de maior confiança, porém, só começou a se instalar definitivamente em abril, com a criação dos depósitos a prazo com garantia especial do FGC.
Numa regra moldada para os bancos pequenos e médios, o governo criou um seguro-depósito de até R$ 20 milhões, bem acima do limite de R$ 60 mil da garantia tradicional. Para terem os depósitos cobertos pelo seguro especial, os bancos pagam uma remuneração equivalente a 1% da catação ao FGC. Graças a ele, conseguiram restabelecer captações junto aos grandes investidores.
Na semana passada, esses depósitos somavam R$ 9,16 bilhões, montante que garantiu fôlego para os bancos retomarem os fluxos de empréstimos. "O problema é que há um teto para esses depósitos com seguro especial", afirma uma fonte do BC. "Quando bater nesse teto, os bancos terão que retornar às suas formas tradicionais de captação." Ou seja, voltarão a captar recursos sem garantia e, mais uma vez, estarão vulneráveis a ondas de saque.
Quando criou o fundo especial, em março, o governo informou que, em tese, ele pode garantir até R$ 40 milhões em depósitos. Mas há um teto individual. Os bancos não podem captar mais do que os saldos de depósito a prazo mantidos no balanço de 30 de junho de 2008. Em tese, o governo poderia aumentar os limites. O inconveniente é que, agindo assim, estimularia o chamado risco moral - investidores colocariam dinheiro em excesso nos bancos sem se preocupar com a solidez das operações, já que, no fim das contas, o FGC assumiria todos os riscos.
Bancos pequenos e médios estão cientes dos limites para a expansão de suas operações, por isso alguns deles mantêm negociações com grandes instituições financeiras, como a Caixa Econômica Federal, para estabelecer parcerias. O modelo mais citado é a associação entre o Banco do Brasil e o Votorantim, em que o primeiro entrou com uma base estável de captação de recursos, e o segundo, com uma máquina eficiente de contratação de operações de crédito.
O diretor-executivo do FGC, Antonio Carlos Bueno, pondera que o seguro especial faz mais para os bancos pequenos e médios do que permitir uma recomposição circunstancial de depósitos. Ele reforçaria, de forma permanente, a confiança dos investidores nos bancos menores, além de estimular o alongamento de prazos das operações.
"É muito provável que os depósitos não atinjam o valor máximo esperado de R$ 40 bilhões", afirma Bueno. Os bancos, segundo ele, estão captando entre R$ 50 milhões e R$ 80 milhões por dia com seguro especial. As captações sem seguro, afirma, estão voltando aos níveis anteriores aos da crise. "O seguro especial é uma espécie de salvaguarda, que dá segurança aos depositantes de que, numa crise, os bancos vão continuar captando dinheiro no mercado", afirma.
Além disso, o seguro especial do FGC têm regras rígidas que estabelecem prazos mínimos para as captações. Essa seria uma forma de induzir os investidores a alongarem os prazos também nas captações sem seguro.
O FGC já se desfez de 75% dos R$ 8,7 bilhões em carteiras de crédito que comprou dos pequenos e médios na crise e, dentro de 30 dias, pretende eliminar o resto. Em comunicado divulgado há duas semanas, o BC informa que, a partir de outubro, poderá cortar a isenção de compulsórios para quem comprou essas carteiras. "O BC pode eliminar os incentivos", diz Bueno. "A crise que afetou os bancos pequenos e médios foi superada em abril."
Fonte: Alex Ribeiro - Valor Online
Link: https://sindicario.com.br/noticias-gerais/seguro-da-folego-a-bancos-medios/