18 de Dezembro de 2008 às 23:48

Valor: Liquidez põe em xeque banco médio

Na semana passada, a agência de avaliação de risco Moody´s rebaixou o rating de três bancos especializados em crédito consignado, o BMG, Bonsucesso e Cruzeiro do Sul. Mas não é o produto em que se especializaram esses bancos que determinou a ação da Moody´s, mas sim o modelo de negócio. “Reavaliamos a franquia e o modelo de negócios e concluímos que não é sustentável”, disse a vice-presidente e analista sênior do grupo de instituições financeiras da Moody´s, Ceres Lisboa, acrescentando que não se trata de uma revisão generalizada, mas sim dos bancos especializados em consignado, “que sofrerão mais pressão em 2009”.

 

O rating global de depósito de longo prazo em moeda local do BMG e do Cruzeiro do Sul foi reduzido de “Ba1” para “Ba2”; e o do Bonsucesso, de “Ba2” para “Ba3”. O primeiro ainda ficou com perspectiva estável. Já o Bonsucesso e o Cruzeiro do Sul têm perspectiva negativa.

 

Ceres explicou que “a franquia desses bancos vai diminuir porque não haverá liquidez, lá fora e aqui também. Esses bancos terão que redimensionar seus negócios. Dependendo 90% a 100% das cessões de carteira, esses bancos ficarão na mão dos grandes”.

 

A disponibilidade de recursos (funding) é um dos principais problemas desses bancos, acrescentou Ceres. A escassez de recursos vai limitar o crescimento da carteira de crédito, o que reduzirá o retorno.

 

A Moody´s não está falando nada de novo para os bancos atingidos pela decisão. Todos eles vêm há alguns meses tomando medidas para se ajustar ao novo cenário.

 

Sinal disso foi a redução do ritmo de crescimento do crédito consignado. De acordo com os dados mais recentes do Banco Central (BC), ao fim de setembro, a carteira de consignado montava a R$ 75,3 bilhões, mostrando crescimento de 23,8% em doze meses em comparação com 27% ao fim de junho.

 

O diretor financeiro do BMG, Ricardo Gelbaum, afirmou que o banco “vem fazendo o dever de casa desde maio. Percebemos que vinha um tsunami pela frente, que ia haver menos funding e que o dinheiro ficaria mais caro”.

 

O BMG, segundo informou, reduziu os custos em 20%, cortou a produção mensal de crédito entre 30% a 40% em relação ao pico do fim de março e procurou preservou a liquidez. Além disso, manteve os acordos de cessão de carteira que possui com a Cetelem e a Nossa Caixa e estabeleceu novas parcerias e manteve a alimentação dos fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs).

 

Os outros bancos de consignado foram na mesma direção. O Bonsucesso fez quatro acordos de cessão de carteira no valor total de R$ 2 bilhões, que vão garantir uma produção mensal próxima de R$ 130 milhões ao longo dos próximos 12 meses, com os bancos Caixa Econômica Federal, WestLB e Nossa Caixa. Mas a perspectiva é que a produção atinja R$ 100 milhões mensais em janeiro, aquém da capacidade do banco mas acima do nível atual. Com a crise, a produção mensal de crédito do Bonsucesso, caiu cerca de 30%, de R$ 100 milhões para R$ 70 milhões a R$ 80 milhões mensais.

 

O banco dispensou 300 dos 800 funcionários e, com outras medidas, projeta uma redução de 40% do custo administrativo.

 

“Vamos começar 2009 mais enxutos e com a estrutura redesenhada de modo estar preparados para ganhar dinheiro”, disse o presidente Paulo Henrique Pentagna Guimarães. Para ele, 2009 “pode ser melhor do que 2008”.

 

Construir um colchão de liquidez foi o principal objetivo do banco depois do estouro da bolha do subprime. Com uma estratégia de venda de carteiras e de redução das concessões de crédito, o Cruzeiro do Sul conseguiu acumular um caixa de R$ 1,2 bilhão, praticamente igual ao patrimônio do banco, de R$ 1,1 bilhão. A produção de consignado somou R$ 619,4 milhões no terceiro trimestre, 35% a menos do que no segundo trimestre e 28,5% a menos do que em igual período de 2007. No período foram cedidos R$ 1,4 bilhão em carteira de crédito. Em outubro, mais R$ 1 bilhão; e o banco fechou acordo para vender mensalmente R$ 90 milhões, até atingir R$ 900 milhões. O Cruzeiro do Sul é o único dos bancos rebaixados pela Moody´s que tem ações negociadas em bolsa e cede créditos para outros bancos e também a Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs).

 

A mais nova aposta do banco é o cartão de crédito consignado, cuja carteira atingiu 1 milhão de plásticos emitidos, ou 42% do mercado. No cartão, o retorno é ainda maior porque é vendido por call centers. O Bonsucesso também está investindo na ampliação do cartão de crédito consignado e tem 30 mil plásticos emitidos.

 

Para o diretor financeiro do BMG, Ricardo Gelbaum, o problema não é o crédito consignado e sim seu prazo longo, incompatível com o encurtamento das captações de depósitos a prazo. Por isso, o CDB nunca foi um produto estratégico na captação do banco. Em março representava 15% do total; agora, o percentual é de 10%.

 

Ceres disse que os bancos médios ficam na dependência dos grandes, ao recorrer mais às cessões de carteira. Gelbaum afirma que o negócio é bom para os dois lados e que as cessões tornaram-se a única alternativa de funding. “Há um descasamento de ativos e passivos”, acrescentou.

 

O BMG, disse Gelbaum, “quer estar enxuto, ágil e pronto para voltar a exibir os índices dos últimos seis anos, assim que a economia decolar”. Para ele, o consignado é a linha de crédito de melhor qualidade e garantia.

Valor Econômico
 

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